Cartaz de divulgação do filme As Sufragistas.
Cartaz de divulgação do filme As Sufragistas
História

 MULHERES E SUFRÁGIO NA INGLATERRA

O filme As Sufragistas nos convida a entender o processo de luta por participação política feminina na Inglaterra.

Um processo histórico longo, onde, muitas vezes, as mulheres e os homens lutaram juntos por causas comuns,
entretanto, na hora das conquistas políticas (e não apenas), elas continuaram (por muito tempo) – de alguma forma – excluídas.

Ao longo dessa epopeia, algumas mulheres perceberam o peso dos estereótipos sobre as suas condições e das consequências das desigualdades de gênero.

Muitas não ficaram caladas!

Quer saber sobre esta longa saga?

[ o texto continua após a imagem ]

Historieta explica. História! Dúvidas? Curiosidades.
Historieta – a mascote de Histori-se

MANIFESTAÇÕES ANTIGAS

Iniciamos a  nossa conversa pelo século XVIII, no qual mulheres, como Mary Wollstonecraft, levantam questões sobre a educação de homens e mulheres e
ousam pleitear igualdade para os dois sexos nos direitos político, civil e econômico.

Ousadas!

Escreviam, debatiam em reuniões, questionavam.

Mary, por exemplo, entre as suas publicações, conta com o famoso A Vindication of the Rights of Woman (1792).

Retrato de Mary Wollstonecraft 1797
Imagem de domínio público

Importante repetir: mulheres estiveram presentes em diferentes movimentos reivindicatórios e revolucionários.
Podemos, inclusive, relacionar as bases da luta pelo sufrágio feminino inglês com – entre outros – dois grandes movimentos:
o cartismo e o abolicionismo.

seta

AS SUFRAGISTAS

Em 1860, já encontramos grupos sufragistas na Inglaterra.

Até o início do século XX, o movimento de mulheres em prol do sufrágio universal é cunhado como constitucionalista.

Por quê?

Porque as suas ações não infringiam normas legais e nem códigos de conduta.

Pensavam que, divulgando suas ideias e as razões de sua luta, conseguiriam o apoio da opinião pública
e o convencimento da classe política, detentora das decisões e leis.

Mas … Elas foram pouco escutadas e sofreram enormes derrotas.

No início do século XX, parte dessas mulheres se convenceu de que não seriam escutadas e que, de acordo com falas delas, deviam agir com ações que os homens costumavam escutar.

A fase, didaticamente intitulada de constitucionalista, deu lugar à fase militante.

Votes for women . Em português: votos para as mulheres.
Sufragistas Annie Kenney e Christabel Pankhurst . Imagem de domínio público.

A FASE MILITANTE

Na fase militante, podemos identificar dois grandes modos de ação das sufragistas: as moderadas (ou constitucionalistas) e as dissidentes

Neste texto, denomino como dissidentes aquelas que buscaram – como alternativas – ações mais radicais.

AS CONSTITUCIONALISTAS

Além do sufrágio feminino – essas mulheres defendiam, outras causas como o direito à educação e a igualdade salarial entre professores e professoras.

Seus ideais continham muitas proximidades com o ideário liberal e, também, com demandas de outros movimentos.

Essa característica explica tanto a busca pelo apoio de alguns homens parlamentares quanto a assunção de lutas com diversos movimentos.

APOIO MASCULINO

Um exemplo é John Stuart Mill.

No ano de 1865, ele foi eleito deputado e logo foi procurado pelas defensoras dos direitos políticos para as mulheres:
elas queriam o seu apoio e a sua voz no Parlamento.

John Stuart Mill apresentou a demanda pelo voto feminino à Câmara dos Comuns em 07 de junho de 1866.

Não teve sucesso! As mulheres continuaram excluídas!

Era de ciência das sufragistas que só o direito ao voto não resolveria as questões das desigualdades femininas e nem garantiria proteções sociais e trabalhistas às mulheres.

Para elas, a conquista do voto era um passo fundamental para demais conquistas.

Era o voto que garantiria a exigência de retorno dos políticos eleitos às demandas do eleitorado feminino e que levaria mulheres para legislarem pensando em suas especificidades.

Entre os seus oponentes, sabiam (e sabemos), havia alguns inimigos… Alguns de seus algozes ainda causam danos no século XXI. Quais?

Os estereótipos sobre as mulheres e as crenças de lugares e papéis femininos na família e na sociedade.

Suas estratégias de lutas.
  • Tentativas de convencimento de parlamentares e da opinião pública da importância de suas demandas.
    Exemplos: artigos na imprensa, cartazes, panfletos, periódicos produzidos por mulheres, cartões postais, reuniões, petições com coletas de assinaturas entregues ao Parlamento.
Retrato de Emmeline Pankhurst – 1909 – Museu de Londres. Imagem de domínio público.

NASCEM AS SUFFRAGETTES

Criado no raiar do século XX, o Partido Trabalhista contou mulheres que pleiteavam o voto feminino.

 Elas eram – em geral – filhas das camadas médias da Inglaterra ou operárias [em especial, das indústrias têxteis localizadas na região norte].

A maioria dessas mulheres, também, pertenciam a sociedades sufragistas, como a ‘Manchester Suffrage Society’ (Sociedade sufragista de Manchester).

A entendida como falta de compromisso do Partido Trabalhista com a pauta do voto também para as mulheres e as repetidas faltas de êxito nos movimento em prol do voto feminino levaram Emmeline Pankhust a abandonar o Partido e a buscar novos métodos de ação sufragistas.

Junto com outras companheiras de ideais, no ano de 1903, Pankhust fundou e liderou a ‘WSPU – Women’s Social and Political Union’ [União Social e Política das Mulheres]

AS SUFRAGISTAS e as SUFFRAGETTES

As sufragistas fiéis às antigas táticas – ou seja,  sem adotar métodos que pudessem ofender a ordem pública da época – a partir deste momento, serão designadas como sufragistas constitucionalistas (ou apenas como constitucionalistas).

Sua associação mais antiga e expoente foi criada no ano de 1897: a ‘NUWSS – National Union of Women’s Suffrage Societies’.

A NUWSS tinha um semanário de nome The Common Cause (A Causa Comum) e era liderada por Millicent Garret Fawcett.  Além do voto feminino, pensavam reformas para a sociedade da época.

Cartaz de divulgação do filme As Sufragistas.
Cartaz de divulgação do filme As Sufragistas. Título original: Suffragette.

As SUFFRAGETTES

As mulheres que participavam da WSPU – Women’s Social and Political Union foram, jocosamente, apelidadas de suffragettes.

A WSPU foi fundada – por Emmeline Pankhurst e suas filhas – na cidade de Manchester.

O seu lema era “Atos, não palavras” .

As suas estratégias incluíam ações mais radicais e agressivas e, embora muitas de suas integrantes considerassem a necessidade de mais reformas nos campos político-social e civil, o foco das integrantes da WSPU era o voto feminino, sem o qual, entendiam, nenhuma outra conquista seria possível.

A WSPU tinha, como periódico, os jornais Votes for Women e The Suffragette.

Uma das suas frentes de ação era o constante incomodar políticos e participantes do Governo inglês de forma ostensiva.

A NUWSS e a WSPU

As duas organizações não estabeleceram um comportamento competitivo.

Apesar de suas diferenças, estavam unidas em prol do mesmo objetivo e chegavam a colaborar uma com a outra ou, ainda, com outras associações sufragistas existentes.

Em toda a Grã-Bretanha, existiam organizações sufragistas de diferentes formatos e tamanhos.

SUFFRAGETTES

A Sede da WSPU

No ano de 1905, o Partido Liberal ganhou as eleições. Isso levou à ideia de que seria um momento mais fácil para conseguir a aprovação do sufrágio feminino.

A mudança da sede da WSPU para Londres garantia uma proximidade maior com a grande imprensa, o Parlamento e setores do Governo.

A BICICLETA E AS CALÇADAS

A bicicleta foi uma grande aliada das que lutavam pelo voto feminino.

 Com ela, as sufragistas se locomoviam com grande rapidez para a época e, nos eventos políticos, lá estavam interpelando autoridades, interrompendo discursos e estendendo suas faixas e cartazes.

Nos intervalos entre os turnos das fábricas, também se faziam presentes distribuindo panfletos e conversando com as operárias.

Em qualquer espaço da cidade, era possível encontrá-las em ações discretas ou ostensivas.

Se a grande imprensa não divulgava os eventos, se seus informes, jornais ou panfletos não eram suficientes para informar:  havia as calçadas e os muros funcionando como quadros de avisos.

AS CORES DA CAMPANHA SUFRAGISTA

Primavera de 1908 – verde da esperança; branco da pureza e violeta da dignidade: as cores do movimento sufragista.

A WSPU selecionou essas cores e suas associadas procuravam usá-las nas roupas e/ou nos adereços como modo de reconhecimento mútuo e de identificação com a causa maior: o voto feminino.

ORÇAMENTO e CUIDADOS

Além das inúmeras voluntárias, constantemente, recrutadas para a causa sufragista, havia constantes ações para angariar recursos, como produção e venda de produtos e a organização de bazares e feiras para tais fins.

Aulas de oratória, escrita e defesa pessoal e redes de apoio são exemplos de cuidados.

A RADICALIZAÇÃO

Além das cores, o ano de 1908 teve como marco a grande radicalização de movimentos sufragistas, em especial da WSPU. Explosões de caixas de correios, quebra de vidraças

O aumento do número de detenções e do tempo de encarceramentos das sufragistas também foram enormes.

A cada ação uma reação maior… Se presas ficariam silenciadas, encontraram a greve de fome como forma de protesto. Aos poucos, as notícias corriam: mulheres presas estavam debilitadas por fome nos cárceres ingleses.

A cada ação, reações ….

Pelo medo de mulheres morrerem em decorrências das greves de fome e essas ocorrências gerarem reações e mártires pela causa do voto feminino, o governo inglês optou pela tortura como meio de nutrição: a alimentação forçada.

A conquista do voto para algumas

Em 6 de fevereiro de 1918, o parlamento britânico aprovou o direito ao voto a todos os homens maiores de 21 anos e a todas as mulheres acima de trinta anos com comprovação de moradia.

1919 – dezembro – o Parlamento aprovou emenda que permitia às mulheres, independente do estado civil, ocuparem qualquer cargo no serviço público.

1928 – Mulheres e homens maiores de idade tiveram o direito ao voto.

Algumas datas:

Foram várias as reformas eleitorais na Grã-Bretanha, entretanto, em nenhuma, até o ano de 1918, mulheres estavam entre as pessoas com direito ao voto.

  • 1866 – John Stuart Mill apresentou demanda pelo voto feminino à Câmara dos Comuns.
  • 1884 – Lei eleitoral garantiu o direito ao voto aos trabalhadores assalariados que tivessem rendimentos acima de um determinado valor.
    Em torno de 40 % dos homens britânicos  e todas as mulheres continuaram excluídos do processo eleitoral.
  • 1893 – voto feminino aprovado na Noruega.
  • 1902 – voto feminino aprovado na Austrália.
  • 1906 – voto feminino aprovado na Finlândia.
  • 1909 – Sufragistas na Inglaterra – prisões e greves de fome.
  • 1913 – voto feminino aprovado na Nova Zelândia.
  • 1913 – Morte de Emily Davison.
  • 1914 – 1918: Primeira Guerra Mundial

Durante a Primeira Guerra Mundial, mulheres preencheram os postos de trabalho masculino.
Ao término da guerra, muitos soldados retornavam do front e a maioria não tinha direito ao voto.

  • 1917 – voto feminino aprovado na União Soviética.
  • 1918 – voto feminino aprovado na Alemanha.
  • 1918 – 06 de fevereiro – Grã- Bretanha – Mulheres com idade acima de 30 anos podem votar.
  • 1920 – voto feminino aprovado nos Estados Unidos.
  • 1961 – Professoras conquistam a mesmo remuneração que professores.

LIVE

Professores Léo Prado e Patrícia Augusto Carra. As Sufragistas.
Live < As Sufragistas -live 03.03.2023 >. 

No dia 03 de março de 2023, conversamos – eu e Léo Prado – sobre o filme As Sufragistas. O link está acima.

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