Fotografia de Fabi Guedes
Maternidades, história e direitos.

Mãe: a rainha?

O Brasil vivenciou, durante o Segundo Reinado (1840 – 1889), o sonho de ‘modernização da sociedade brasileira’ e sobrou para as mulheres. Como? Que história é essa? Rainha do lar?

Políticos, cientistas, juristas e outras personalidades que idealizavam uma modernização da sociedade brasileira aos moldes da Europa do século XIX enxergaram as mulheres como possíveis e valorosas aliadas.

O único problema seria convencê-las de tal projeto… mas – ao entender o sexo feminino como um educador natural – essa ação foi entendida como possível de sucesso.

A educação das mulheres, em diferentes espaços e através de diversos meios resultou na criação da Rainha do Lar.

RAINHA DO LAR

A rainha do lar tinha problemas: deveria viver para o lar e para os cuidados do marido e dos filhos, entretanto, essa não era uma possibilidade para grande parte das brasileiras:

muitas necessitavam trabalhar também fora de suas casas para o sustento de si e dos seus.

Havia, ainda, as que questionavam o posto majestoso, assim como os seus predicados e limitações.

Os anos finais do século XIX e o século XX compartilham a busca de mulheres pela emancipação feminina como uma de suas marcas.

De início, pleitearam o direito a uma educação igualitária à oferecida para o sexo masculino, mas suas bandeiras multiplicaram-se.

Mulheres lutaram pelo direito ao voto e pela participação na vida política do país e, ainda, por direitos civis.

Podemos observar que muitas foram as mudanças na sociedade brasileira e nas condições de vida de suas mulheres, entretanto, permanecem resquícios do ideário da Rainha do Lar e é ainda forte o ideário da maternidade como algo intrínseco à mulher.

MATERNIDADE E DIREITOS HUMANOS

Atualmente, é valorizada a tese de que a maternidade não é um destino de toda mulher, mas sim uma livre escolha.

Ao mesmo tempo, há – no senso comum – a certeza (?) o desejo da maternidade, mais cedo ou mais tarde, desabrochará em cada uma das pertencentes à categoria do sexo feminino e esse desejo poderá ser (ou não) atendido.

A maternidade, então, é alçada à categoria de instinto feminino e deixa de ser pensada enquanto fenômeno social, atravessado pelas desigualdades que ainda permeiam a nossa sociedade.

Nossa sociedade idealiza a maternidade, porém, não é acolhedora com as mães.  Como?

O exercício maternidade, desde a fase de gestação, significa uma odisseia para grande parte das brasileiras.
A ausência de políticas públicas eficazes e capazes de atender a todas as mães em suas diversidades é um dos grandes problemas enfrentados pelas que adentram ao mundo da maternidade.

Se elaboramos um álbum das maternidades no Brasil, enxergaremos, em suas imagens e legendas, diversos  e desiguais ‘Brasis’.

Perceberemos preconceitos e barreiras que mulheres grávidas e/ou mães, em geral, enfrentam no mundo do trabalho (e não apenas). Entenderemos, por exemplo, que a saúde pública brasileira não oferta a todas as mães a possibilidade de um pré-natal adequado.

Penso ser urgente refletir sobre a maternidade na searas dos direitos humanos.

Muitos argumentam que já existem direitos das crianças e dos adolescentes. Sim, existem; contudo, esses podem ser convergentes, mas – jamais – substitutos dos direitos das mulheres, ou ainda, de garantias do exercício de uma maternidade digna para todas as mulheres-mães‘.

Refletir sobre os diferentes exercícios de maternidades e sobre esses no cotidiano e na vida social, cultural e laboral das mulheres em nossa sociedade é importante para pensar e efetivar políticas que ampare mulheres-mães

Penso:

uma sociedade que não é amorosa com suas mães, também, não gosta de suas crianças.

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