Tapuias ou tapuios
Tapuias ou tapuios? Quais povos?
Povos originários do Brasil

Introdução

Diversos povos viviam, em 1500, no território que, atualmente, reconhecemos como brasileiro.
Estima-se de 1 a 10 milhões de pessoas falantes de cerca de 1.300 diferentes idiomas.

Sabia que 5,6 milhões de pessoas viviam na região da bacia amazônica?

Havia uma pluralidade de povos com diferentes línguas, crenças, modos de vida, modelos de habitação etc.
Grande parte desses povos integra o conjunto identificado como tapuia ou tapuio.

Já conversamos sobre os Tupis-guaranis  .
Hoje, conversaremos sobre os tapuio.

Um povo? Vários povos?

Continue a leitura e descubra a resposta.

  TAPUIAS OU TAPUIOS

Esses povos diferentes e falantes de outras línguas foram denominados tapuias pelos tupis-guaranis.
Muitas e diversas eram as culturas brasilíndias!

Tapuia era um termo para designar diversos e diferentes povos, os quais tinham em comum, pelo menos,
o fato de não pertencerem ao tronco tupi guarani.

Os povos pertencentes à família linguística estavam no conjunto intitulado tapuias, mas eles não eram os únicos.

Vários outros povos também assim eram denominados. Por quê?

Porque os tupis designavam a todos que não pertenciam à sua cultura como tapuia.

OS COLONIZADORES

Os colonizadores não perceberam bem o significado de tapuia para os tupis e, em decorrência disso e dos seus interesses e etnocentrismo, em suas documentações, referiam a tapuia ou tapuio como designação de um povo classificado como selvagem, bravio, bárbaro, sem civilização

Tapuias – para as lentes europeias – eram os povos ou os grupos resistentes ao avanço da colonização, assim como os povos originários que viviam no interior do continente, com os quais só foram conviver no processo de colonização e de avanço para os sertões.

Algumas publicações trazem tapuias como sinônimos dos povos pertencentes à família linguística , mas essa informação não está correta.

Além dos Jês, existiam (e existem) outros povos não entendidos como tupis.

Quando os portugueses desembarcaram no nosso litoral, em 1500, havia grupos Tapuia  que disputavam territórios nesse espaço, resistindo à expansão dos tupis da costa (povos do tronco tupi-guarani que viviam no litoral).

A maioria vivia no interior do continente, sendo que os Jês foram encontrados vivendo dentro dos limites territoriais que hoje entendemos como Brasil. 

TAPUIA OU TAPUIO NA COLONIZAÇÃO

Com o tempo, os povos que vieram de terras do outro lado do oceano mostraram as suas intenções.
Aos mais arredios, além da guerra e da escravidão, teceram narrativas que os colocavam longe do ideal civilizatório europeu, como selvagens e primitivos.

A seguir, apresento duas obras onde preconceito, desconhecimento, fantasia e medo compuseram as narrativas no tempo do Brasil Colônia:

Albert Eckhout
Pintura de Albert Eckhout – Arte imagem: Histori-se

Observe as imagens dos quadros “Mulher Tupi” e “Mulher Tapuia“, do artista holandês Albert Eckhout que foram pintados em 1641.

A mulher tupi, em relação à tapuia, entre outros detalhes, é apresentada como mais próxima ao ideal de cultura europeu.
E a tapuia?

A MULHER TAPUIA 

Nesse instante, não tenho a intenção de tecer um estudo icnográfico rigoroso, deixo esta ideia para um outro post.
Por hora, pretendo apenas chamar sua atenção para alguns detalhes das narrativas presentes nessas imagens e provocar a sua atenção e reflexão.

Mulher tapuia com marcações para comentários no texto
Arte: Histori-se sobre imagem do quadro “Mulher tapuia”.

A mulher é apresentada nua com o sexo escondido por ramo de folhas verdes.

Observe os espaços que, na imagem, identifiquei com o número 1, perceberá que – de dentro do cesto preso à cabeça – sai parte de uma perna humana e, ainda, que uma de suas mãos segura uma mão

No espaço marcado com o número 5, no fundo, guerreiros dançam. Seria dança para a guerra?

O número 3 alerta para a presença de uma cobra abatida com um pedaço de madeira e o número 4 ressalta a presença de um cachorro, animal doméstico que veio para a América com os europeus.

A mulher tupi tem produtos manufaturados no seu cesto. A mulher tapuia traz pedaços de corpo humano…

Mas o que conhecemos sobre a antropofagia entre os povos identificados como tapuias não condiz com o apresentado, uma vez que consumiam os corpos de gente do seu povo, quando era morta, em forma triturada e socada (pilada) com farinha.

Tupis da costa praticavam antropofagia, consumindo os inimigos prisioneiros em pedaços assados sobre uma espécie de grelha (moquém).

O nome da pintura nos diz muito: como sabemos, não há uma etnia “tapuia”. De acordo Inge Schjekkerup, a mulher tapuia seria pertencente ao povo Tarairiu.

Botocudos
Rascunho gravura de Ferrario, Giulio feita entre 1823 a 1838. -Chefe da Tribo Botocudos (Aymborés).

Conversamos sobre povos que viviam na América, no espaço que entendemos, hoje, como Brasil no último ano do século XV e no início do século XVI, mas, aguarde, pois a história continua.

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Como citar este texto?

Notas e referências:

Brasilíndias –  culturas existentes no continente americano no espaço que hoje entendemos como território brasileiro.
Albert Eckhout (1610 – 1666). Morou um período no Brasil Holandês. Ele chegou no início do ano de 1637 junto com o grupo de artistas e estudiosos que compunham a comitiva de Maurício de Nassau.

  • AZANHA, G.; VALADÃO, V.M. Senhores destas terras – os povos indígenas da colônia aos nossos dias. Coord. Maria Heleno Simões Paes e Marly Rodrigues. 9. Ed. São Paulo, Atual, 1998.
  • BACCEGA, M. A. O estereótipo e as diversidades. Revista Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo, S.P,1998.
  • CHICANGANA-BAYONA, Y. A.. Os Tupis e os Tapuias de Eckhout: o declínio da imagem renascentista do índio. Varia Historia, v. 24, n. 40, p. 591–612, jul. 2008.
  • RIBEIRO, Berta. O índio na história do Brasil. 12 ed. São Paulo; Global, 2009.
  • RODRIGUES, Rosiane. Nós do Brasil – Estudos de relações étnico raciais, São Paulo, Moderna, 2012.
  • SCHJELLERUP, Inge. Quem eram eles? Povos nativos nas pinturas: Tupinambás e Tarairius. IN: Albert Eckhout 1644-2002. Copenhagen: Nationalmuseet, 2002, p. 141.
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