Cantinho da Tati
“A cultura não faz as pessoas. As pessoas fazem a cultura. Se uma humanidade inteira de mulheres não faz parte da nossa cultura, então, temos que mudar nossa cultura”. (ADICHIE, Chimamanda; 2020)
Essa é uma frase retirada do livro Sejamos Todos Feministas, escrito por Chimamanda Ngozi Adichie, uma escritora Nigeriana que tem desbravado o mundo patriarcal com livros de leituras fáceis, leves e ao mesmo tempo intensas.
Vivemos um mundo até agora patriarcal. A força física fez do homem o gestor do nosso sistema, o pôs no centro das escolhas e o conduziu a pensar que esse era o sexo que comandava a tudo e a todos. Caçou animais, alimentou tribos, ergueu lares, desbravou terras, arquitetou sistemas, gerou hierarquias, proveu para famílias, ou seja, até então esteve no topo da pirâmide da gestão de processos e escolhas culturais.
Costumo dizer que para toda cultura existe uma contra cultura. E é nesse jogo de poder, de ideais e de construções de novos cenários que vamos desenhando sociedades e futuros. Costumo também dizer que não existe uma única verdade, e que todas as partes envolvidas em uma construção social e cultural são donas de suas próprias verdades.
Em uma cabeça criativa como a minha, tenho a imagem de uma linha do tempo sendo construída com pessoas puxando a cultura para um lado, outras para outro, esquerda, direita, cima e embaixo. Imaginem tudo isso acontecendo com a tecnologia se desenvolvendo, a economia focada no PIB, desigualdade ou igualdade social, mercado de trabalho modificando a cada década, ano, ou segundo. Consegue imaginar?
A verdade é que ninguém sabe ao certo o que está fazendo. As pessoas refletem apenas aquilo que lhe convém ou que lhe toca, seja de forma econômica, familiar ou empática. E é assim, com esse emaranhado de linha do tempo, mudanças estruturais e sistêmicas, e interesses pessoais se desenrolando com o passar do relógio/calendário, que percebemos o que de fato precisa ser mudado em uma cultura.
Dito isso, percebo que essa construção do modelo socioeconômico que vivemos foi pautado por um perfil masculino e patriarcal, ou seja, o homem branco possui uma grande influência na condução da nossa cultura como humanidade, estando ele no topo da pirâmide dessa condução. Abaixo dessa pirâmide, vem a mulher.
A intenção aqui não é entrar em pautas raciais, e sim compreender o papel da mulher na sociedade até então patriarcal. Com isso, podemos olhar ao redor: em escritórios, cargos de chefia, trabalhos domésticos, entre outros. Proponho que, se você mora no Brasil, pode sair às ruas e observar os carros de mais valor no mercado, os motoristas serão 90% homens. Pode conversar com amigos e amigas para saber quem são as pessoas que cozinham, lavam, limpam suas casas, e, nesse caso, serão basicamente mulheres. Cargos como de secretária são, na maioria das vezes, femininos, e por aí vai. Muitos dirão que não há mulheres suficientemente capacitadas para exercer cargos de liderança, ou acharam desculpas, falhas para tal.
A restrição da mulher é tão recente que tivemos o direito ao voto há menos de 100 anos, liberdade de termos conta bancária há menos de 60. Olhando para trás e analisando o desenrolar de uma sociedade, é até possível que entendamos o porquê de estarmos onde estamos, porém, hoje, já temos provas suficientes para corrigir essa desigualdade de gênero, aceitando e respeitando o papel da mulher na sociedade.
Compreendo que, para essa mudança estrutural acontecer, muitos perderão seu posto de “poder”, haverá uma alternância de interesses e de modelos de gestão. É ousado, é curioso e é diferente do que já vimos até então.
Não vamos nos apegar a formatos do passado, com uma análise fraca e certamente conduzida por quem ocupava o posto superior da pirâmide e dizer que não daria certo muitas mulheres juntas, pois geraria muita fofoca. Também não podemos nos apegar ao fato de que mulheres engravidam, menstruam, têm ciclos hormonais instáveis.
Se você está lendo esse texto, significa que saiu de dentro de uma mulher, e que ela precisou respeitar os ciclos hormonais e humanos para que você viesse ao mundo, não é mesmo?
Aqui quem escreve é uma mulher, cada vez mais, conectada com os seus ciclos, que compreende, cada vez mais, suas potencialidades, que faz uso do que vem descobrindo através do autoconhecimento para promover mudanças e conexões essenciais para si, para o seu lar e o seu mundo. Ouso dizer que uma mulher que alia seus ciclos com as suas potencialidades tem um poder imensurável nas mãos.
Para promover mudanças, teremos que nos desapegar a padrões já pré-estabelecidos, redesenhar cenários e processos já utilizados. Imaginemos que, se mulheres são cíclicas, assim como a natureza, por que o mercado, a sociedade também não pode ser? Precisamos mesmo nos encaixar em perfis quadrados? Precisamos mesmo gerar produtividade nas nossas oito horas diárias, nos cinco dias semanais? Precisamos mesmo competir a ponto de precisarmos subir em colegas ou concorrentes? Ou será que podemos respeitar os ciclos de cada ser humano, inserindo a mulher de igual para igual em uma sociedade, criando mercados mais colaborativos, respeitosos e comunicativos? Introduzindo sensibilidade e cuidado no que fazemos.
Sejamos todos Chimamandas, Tatianas, Patrícias, mulheres e homens que compreendem o quão agressivo e patriarcal é o nosso sistema atual. Já que o amanhã é incerto, construído de verdades e mudanças, por que não estamos abertos ao novo, ao feminino, ao igualitário e ao respeitoso. Tenho certeza de que a sociedade só tem bons frutos a colher com essa mudança, não é mesmo?
A AUTORA
Tatiana Stein