Parte destas produções tinha Histori-se como destinária. Parte foi escrita para afetos ou seres da natureza, ou ainda, para a vida. Nestes casos, Histori-se é – somente – um correio. Uma mensageira amorosa e empática.
Confesso que chorei ao ler a carta que – agora compartilho – e, também, na edição deste post. Quanto amor! Quanta saudade! Quanta amorosidade! Segue a carta:
CARTA AO MEU GRANDE AMOR:
Sabe, amor, quando a Núbia sugeriu escrever uma carta contando sobre o que me acontece na pandemia, eu pensei logo em ti, claro, eu penso sempre em ti.
Quando qualquer coisa me acontece de bom ou de ruim, eu penso em ti, de maravilhoso ou de angustiante, eu penso em ti, de difícil ou agradável, eu penso em ti…em tudo…como diz minha grande amiga Liane (que me ajudou muito quando te foste, muito mesmo, e até hoje ajuda).
O que será que o França ia dizer dessa pandemia?
Quais as teorias que ele traçaria?
Por que tu sempre tinhas um bom papo sobre tudo e todas as coisas acontecidas, por isso, quando nos encontramos, eu e Liane, lembramos sempre de ti.
E eu?
Que sempre tenho vontade de te contar que aprendi a usar alho poró com a Claudinha, a usar quinoa e funghi, com a Liane, que a Fernanda me trouxe brownies, que a Lu me fez alguns pratos deliciosos, que a Elânia me traz bergamotas, a Roze faz pão e me traz… que voltamos a trabalhar juntas, eu e Maura…que o Jairo me traz flores pra ti...e tantas outras novidades culinárias que tu irias adorar, pois sempre gostaste da minha comida e, para mim, era uma delícia te ver comer com tanto prazer, tu que nunca reclamaste de nada que eu fiz para comer nos nossos 25 anos de vida juntos.
Mas viu como fizestes, ou melhor, fizemos amigos? Todos me confortaram quando te foste, todos me auxiliaram, me deram a mão, como eu sempre disse que aconteceria, pois, quando a gente ajuda os outros na necessidade, eles também ajudam a gente na hora precisa.
Sem contar minha família, pois todos me apoiaram e foram presentes.
Por isso, não quero te falar de como faz um ano e meio que não podemos sair para um jantar no Beto, uma tardinha no Marinho, no Cotiporã, no Cavanhas, como gostávamos de fazer…Não quero te falar de como temos que sair na rua de máscaras e com receio permanente de chegar perto, de abraçar, não podemos mais nos abraçar!
Por falar nisso, é do que eu mais sinto falta: do teu abraço quentinho, da tua mão na minha, do teu beijo de boa noite! Da brincadeira juca bala que fazias quando chegavas em casa: Querida, cheguei!
Porque sabias que eu como segunda juca bala mor (o primeiro, o maior de todos os jucas, era tu!) adoro os desenhos animados e a família dinossauro…aqui, em casa, todos sentem falta de ti…
O Flicts pergunta sempre por ti, o Harry, o Ervilho, o Rancinho, o Jarry, o Zé Celso, o Barry, o frei, a pequena pomba, o tio Bilia, o Pato Ju…todos os bonecos para quem dávamos vozes e personalidade… Coisa de gente juca e bonequeira.
Mas ainda não disse porque vim aqui…é que eu queria te agradecer por toda nossa vida, foi o melhor tempo que vivi…e olha que a minha vida foi sempre boa…mas o que vivi contigo me aquece o coração até hoje.
Eu aceito porque sei que foi o melhor pra ti, mas sabes como sou… no fundo, eu sempre me pergunto se não tinha outro jeito…se precisava ser tão cedo, ou não…porque muita gente me diz que não teve nem um mês de amor assim, como o nosso, e eu tive 25 anos… Então, agradeço.
A pandemia, assim como tua partida, tem um viés de crescimento talvez?
Para mim, acho que agora posso dizer que me tornei adulta, pois, segundo um analista que tive quando eu tinha uns 35 anos, eu ainda era um pouco adolescente e me lembro de pensar: ele não vê que não sou adolescente? Ele não vê que sou criança ainda? E que sempre serei?
Mas a tua morte me gelou um pedacinho do coração…bem pequeno, mas gelou…apesar de tu morares aqui, dentro de mim, e, por isso, me fazes passar por essa pandemia no quentinho de nossa casa, onde tudo me lembra nossa relação de questionamentos, discussões, amores e amantes, como sempre fomos…
Muito obrigada, meu amor… Tu sabes…Mas quero te dizer novamente que sempre tive orgulho de ti, da tua luta silenciosa, do teu pensamento inovador…
Quem foi que disse no início de 1998: temos que ter um computador?! Quem foi que, sozinho, entrou no mercado de áudio e, depois, teve seu próprio equipamento em casa quando muitos ainda nem pensavam em ter? Tu.
Foste tu, que nunca te intimidaste, que sempre estavas com o pensamento irrequieto e que sempre me apoiou nas minhas loucuras, pois eu também sou como tu, não desisto assim, continuo lutando pela nossa profissão, vou passar por essa pandemia e ainda vou fazer muita coisa nesse mundo para te orgulhar.
E nunca vou deixar tua memória morrer em meu coração. Serei, para sempre, a tua companheira.
Meu amor, eu te amo… te amo (sim, já estou chorando de novo, mas nós aprendemos juntos que chorar e rir tem o mesmo poder, que é se emocionar, coisa que nunca nos faltou…)… te amo…até breve!