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Será que estamos destinados à paz? Estará inscrita no nosso DNA a vocação para a vida sem guerras? Confira as reflexões de Ana Luiza Antunes.
Úrsula,
Mulheres que escrevem
Imagem de DrSJS in Pixabay (2021).

A  PAZ

Será que estamos destinados à paz?

Estará inscrita no nosso DNA a vocação para a vida sem guerras?

Se assim é, até agora, descumprimos violentamente essa determinação genética: não há registro de períodos pacíficos duradouros na história do Homem sobre a Terra até onde alcança nosso atual conhecimento.

A paz, essa entidade incorpórea e tão desejada pelos povos (pelo menos, na aparência), parece cada vez mais longe, tocada pelos ventos da intolerância e do desamor.

Como vamos conseguir estendê-la entre as nações se não conseguimos sequer mantê-la dentro de nós?

  • Como ensinar à criança que é feio brigar com seu coleguinha de aula enquanto atiramos pela janela do carro obscenidades ao motorista que nos ultrapassou?
  • Como proibir o adolescente de juntar-se à gangue do bairro para promover arruaças se sua família se destrói todos os dias em luta verbal ou física dentro de casa?
  • Se o esporte, às vezes, o único meio de destaque para as classes menos favorecidas, revela-se uma fonte de violência e barbárie, como impedir que os jovens copiem esse modelo?

Sem ter a pretensão de solucionar os males do mundo, volta-me, com insistência, a ideia de que a resposta deve estar no berço.

Não num pretenso berço de ouro social, cuja eficácia já vimos ruir quando meninos de famílias ricas queimam mendigos, mas num berço onde se derrame amor, sim, mas de onde a criança saia educada para o convívio com o igual e o diferente, de onde se forme uma infância livre, mas não permissiva, que respeite a palavra quando esta vem de alguém que se faz respeitar pelo exemplo.

Os pais devem assumir seus papéis de educadores, sem medo de que isso os afaste ainda mais de filhos que já veem tão pouco na luta diária.

Ser pai ou mãe, ou assumir esses papéis conscientemente, é um ato de coragem, uma tarefa para bravos e fortes, que não depende apenas de um ato fisiológico.

Nos pais, está o germe da paz, que deverão inculcar nos filhos através de um olhar compassivo e amoroso sobre a vida.

Se dermos às novas gerações conselhos que não seguimos, elas farão exatamente o que fizermos, não o que desejamos que façam.

Discursos divorciados da prática criam um choque de valores, um estado de descrença e insatisfação — exatamente o contrário a um pacífico estado de espírito.

Isto é certo: a paz não vai brotar entre nós como num passe de mágica; tem de ser plantada, regada, adubada.

Imagem de Manfred Richter por Pixabay

Pode ser que ela não seja um componente intrínseco do nosso DNA, mas um conceito que, uma vez vislumbrado, deverá ser laboriosamente conquistado e adicionado à nossa condição humana.

Talvez seja isso o que estamos fazendo, através dos séculos — aprimorando-nos para alcançar a paz.

Mas será mesmo que tinha de ser por meio de tanta guerra?

A  AUTORA
Ana Luiza Antunes

Ana Luiza Antunes fotografada por Paulo Sindeaux.
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