Coré a Perséfone
Arte: Histori-se
Coré ?
Mulheres mitológicas

Perséfone é a personagem da mitologia grega da narrativa de hoje; contudo dizer de Perséfone envolve falar de Coré e de Deméter: a deusa-mãe…

Perséfone
Arte: Histori-se

 PERSÉFONE OU CORÉ

Coré

 Foi Deméter quem presenteou a humanidade com a invenção do arado, assim contavam os antigos gregos.

A deusa deixava a terra fecunda e essa respondia aos trabalhos da agricultura propiciando farta colheita.
A terra fecunda, ainda, presenteava – animais e humanos – com flores, raízes e frutos silvestres.
De seu caso amoroso com Zeus, nasceu Coré, conhecida, também, como Perséfone.

Coré cresceu bela e alegre. Quando dançava com a mãe sobre os campos, ria e se encantava com o brotar de flores sob os seus pés.
O riso de Perséfone era gostoso de ser escutado, sendo impossível não sorrir ao ouvir o seu som.
De bebê a jovem adulta, Coré era amada, cuidada e protegida pela sua mãe, Deméter. As duas eram tão unidas que muitos se referiam à dupla como: deusa mãe e deusa filha.

Perséfone

Deméter, quando percebeu a filha adulta e as paixões que despertava, ficou preocupada e redobrou seus cuidados.
Muitos foram os apaixonados que quiseram se aproximar de Coré; contudo, Deméter estava atenta e sempre os afastava.
Coré não estava ligada em paixões, seguia sua vida feliz ao lado da mãe e tinha várias amigas.

Eros ou cupido
Arte: Histori-se

Eros e Hades

Um dia, Afrodite chamou Eros e lhe deu uma tarefa: submeter o deus Hades aos caprichos do amor.

Oi?

Eros deveria acertar uma de suas encantadas flechas no deus do submundo.

Numa de suas raras saídas de seu profundo reino, Hades escutou o riso de Coré e foi espiar de onde vinha tão alegre som.
Descobriu Coré dançando com a mãe e, ao mesmo tempo, levou uma flechada daquelas bem doloridas do danadinho do Eros.

Sentindo-se apaixonado, Hades desejou ter uma companheira para reinar com ele no submundo
e essa rainha deveria ser Perséfone.

Zeus
Arte: Histori-se

Zeus

Com a intenção de satisfazer os seus desejos, foi ao encontro do pai da jovem: Zeus.
Tão logo, encontrou com seu irmão e expôs os seus intentos, foi advertido:

“Deméter jamais concordará!”

Hades estava decidido e logo um plano tramou.

Hades e Perséfone

Perséfone colhia violetas e, de repente, viu o solo se abrir e exibir uma grande cratera.
Assustada, gritou, mas a única que a escutou estava longe naquele instante.

Deméter, na verdade, não ouviu, mas sentiu os gritos de Perséfone.
Com o coração apertado, a deusa-mãe correu para onde a filha deveria estar e ninguém encontrou.

Poucos instantes antes, da cratera aberta, havia saído Hades numa grande carruagem puxada por velozes cavalos.
No tempo de um piscar de olhos, Hades raptou a atônita Perséfone e correu para o seu distante reino.

O grande buraco se fechou e nenhum sinal do ocorrido ali ficou.
Deméter sentia que algo acontecera e pôs-se a procurar pela filha. Foi a todos os lugares que as duas conheciam e perguntou a toda divindade, heróis e pessoas.
Ninguém contava onde estava Perséfone.

Perséfone no reino de Hades

Hades apresentou seu reino para Perséfone, falou de seu amor, de sua paixão, de ela ser a sua rainha.
A jovem sentia medo e saudades da mãe e da vida que tinha.

Hades ofereceu água, ela não aceitou beber nada.
Ele ofereceu comida, ela não tinha apetite.

O deus a deixou vagar pelo seu reino, de modo que pudesse conhecer sua nova morada e se acostumar com a nova condição.
A jovem queria retornar para as suas origens.

Hades sabia que, uma hora ou outra, Deméter descobriria o destino da filha e, então, fez-se como um senhor bem velhinho e foi ao encontro de Perséfone, levando uma romã.

Arte: Histori-se

Fingindo ser um desconhecido compadecido do destino da jovem, ofereceu a romã para ela.
Perséfone recusou, mas o terno idoso insistiu e conseguiu que a faminta aceitasse uma única sementinha da fruta.
Era o que bastava para a prender ao destino traçado: ela estava, definitivamente, presa ao seu reino.

Essa era a lei e, logo, seria revelada.

trigo

Deméter – a mãe de Perséfone

Nesse mesmo tempo, incansável, a deusa-mãe buscava pela filha.

A dor da perda e o não saber o destino de Coré a deixaram desolada.
Ela, obstinada e enlutada, descuidou de si, de seus gostos, da fertilidade das terras: procurava e sofria pela filha em vão.

Um ciclo da lua estava completo e Hécate, divindade presente no mundo subterrâneo, sentiu piedade e confessou a Deméter ter ouvido gritos de Perséfone e ainda a aconselhou a procurar quem tudo via: Hélios.

As duas procuram o Sol e eis a revelação: “___ Hades tinha raptado Perséfone e Zeus sabia do ocorrido”.

seta

Pura fúria era Deméter quando ingressou no Olimpo e confrontou Zeus: ela exigiu que a filha fosse resgatada.
Zeus disse que Perséfone estava casada e tremeu diante das possíveis consequências de uma desavença com seu poderoso irmão.
Tentou convencer a irmã a aceitar os fatos.

Deméter, indignada, abdicou de suas obrigações divinas, passando a viver como se fosse uma mortal.

Na forma de uma senhora idosa e triste, ela buscou um povoado e por lá ficou vivendo. Quando pediam pelo nome, dizia se chamar Dós.

Nada de incentivar a fertilidade da terra, nada de cuidar para que o solo não secasse em demasia e nem enxarcasse demais.
Nada de zelar para que as sementes germinassem e abelhas distribuíssem pólen por aí.

A falta de zelo de Deméter logo deu sinais: menores colheitas, pouco para ser coletado e falta de alimentos em quantidades suficientes para nutrir todas as pessoas e, menos ainda, para sacrifícios e oferendas às divindades.

Outro deus ou outra deusa poderia exercer as suas funções?

Não! Assim, após a guerra contra os titãs, foi definido por Zeus: cada divindade com seus atributos.
O equilíbrio do mundo ameaçado. Divindades preocupadas e/ou reclamando da falta de seus agrados.

Deméter aguardou o desenrolar dos acontecimentos.

seta

Zeus convoca Hades e Deméter

Zeus percebe os frágeis equilíbrios da vida divina e da vida humana ameaçados.
A Hades, Zeus expõe a situação e determina – com o apoio das demais divindades – que Perséfone seja devolvida a Deméter.

Hades finge lamentar e lembra leis divinas que podem impedir que atenda aos pedidos divinos.
Chama Perséfone e pergunta: “___ minha rainha, comeu algum alimento em meu reino? Bebeu alguma gota de qualquer bebida? “

Perséfone lembra do gentil velhinho e percebe a armadilha. Olha para Deméter e diz: “Comi uma semente de romã para aliviar um pouco a fome que tenho”.

O sorriso de Hades. O espanto das divindades.
A tristeza e a decisão de Deméter de manter-se como se humana fosse, na forma de uma senhora idosa, ou seja, sem exercer as suas divinas funções.
Tudo isso Zeus viu.

Qual seria a saída para tal dilema?
Deméter estava inflexível.

A SOLUÇÃO

Nem todo agrado a Hades. Nem todo agrado a Deméter.
“A solução está num acordo”: aconselhou Hermes

Vocês notaram que, no dia 20 de março de 2023, às 18:25 h, no Hemisfério Sul, teve início o outono?

Já refrescou um pouco e daqui a pouco árvores terão folhas amarelas. Essas, ainda, sutis mudanças revelam Deméter iniciando as despedidas de sua filha.
Em breve, Perséfone retornará para reinar junto ao marido no reino de Hades.

Deméter irá se entristecer e o inverno que terá início por aqui no dia 21 de junho às 11:58 h representará o tempo de saudades da deusa-mãe.

Dia 23 de setembro, às 03:50, no entanto, Deméter estará em festa com a chegada da primavera e o retorno de Perséfone para a sua companhia.

Perséfone
Arte: Histori-se

PERSÉFONE – RAINHA

Hades convenceu Perséfone a aceitar ser sua rainha e reinar no mundo avernal durante a parte do ano em que não estivesse visitando a deusa-mãe.

Coré, agora Perséfone, cumpre o seu destino: viver em dois mundos.

Ela aceita esse destino, mas, também nele, busca autonomia e seus lugares.
Assim, graças à nova rainha, heróis ou heroínas encontraram guias para andar nos campos do submundo, quando nele foram lançados ou se aventurarem.

Ao viver, ativamente, em dois mundos, Perséfone desvenda segredos e conhecimentos de ambos. Estabelece laços.

Lembram de Hécate?

A divindade que auxiliou Deméter também protege Perséfone enquanto esta fica distante da deusa-mãe.
Hécate guia e ensina os mistérios do reino de Hades para a sua protegida. É ela quem inicia Perséfone em mistérios dos reinos da vida e da morte.

Coré ou Perséfone?

Ambas. Por quê?

Por serem a mesma deusa em fases diversas de suas vivências.

marca Histori-se

Da série Mulheres mitológicas, vide também:
Referências:

BRANDAO, Junito. Mitologia Grega Volume 1, Petrópolis: Vozes,1986
CAMPBELL, Joseph. O poder do mito. São Paulo: Palas Athena, 1990
GRIMAL, Pierre. Dicionário de mitologia grega e romana. Rio de Janeiro: Bertrand, 2011.
WOOLGER, Jennifer B.; WOOLGER, Roger J. A deusa interior: um guia sobre os eternos mitos femininos que moldam nossas vidas. São Paulo: Cultrix, 2007.

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