Minhas dicas de leitura são três livros: Bagagem, de Adélia Prado, Para educar crianças feministas – Um Manifesto, da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie e Poemas da recordação e outros movimentos, de Conceição Evaristo.

CLUBE DE LEITURA

BAGAGEM

Em Bagagem, Adélia Prado, de forma poética, nos diz de sua condição feminina. No seu cotidiano, tanto o amor como a religiosidade são marcas.
O poema “Com Licença poética” – presente nessa obra – foi escolhido para iniciar o sarau do Clube de Leitura de  Histori-se, no dia 30 de abril. Aprecie:

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas, o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida, é maldição pra homem.

Mulher é desdobrável. Eu sou.

PARA EDUCAR CRIANÇAS FEMINISTAS – UM MANIFESTO

A segunda dica de leitura é o livro Para educar crianças feministas – Um Manifesto, da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie.

Um texto pequeno e bem leve no qual a autora aceita o pedido da amiga de infância, Ijeawele e compartilha dicas e reflexões sobre maternidade e criação de filhos.  Logo no início (página 8), Chimamanda diz:

“[…] Agora eu também sou mãe de uma menininha encantadora […] penso que é moralmente urgente termos conversas honestas sobre outras maneiras de criar nossos filhos, na tentativa de preparar um mundo mais justo para mulheres e homens.”

POEMAS DA RECORDAÇÃO E OUTROS MOVIMENTOS

A minha terceira dica é o livro Poemas da recordação e outros movimentos, de Conceição Evaristo. Compartilho o poema “De mãe”.

O cuidado de minha poesia
aprendi foi de mãe,
mulher de pôr reparo nas coisas,
e de assuntar a vida.

A brandura de minha fala
na violência de meus ditos
ganhei de mãe,
mulher prenhe de dizeres,
fecundados na boca do mundo.

Foi de mãe todo o meu tesouro
veio dela todo o meu ganho
mulher sapiência, yabá,
do fogo tirava água
do pranto criava consolo.

Foi de mãe esse meio riso
dado para esconder
alegria inteira
e essa fé desconfiada,
pois, quando se anda descalço
cada dedo olha a estrada.

Foi mãe que me descegou
para os cantos milagreiros da vida
apontando-me o fogo disfarçado
em cinzas e a agulha do
tempo movendo no palheiro.

Foi mãe que me fez sentir
as flores amassadas
debaixo das pedras
os corpos vazios
rente às calçadas
e me ensinou,
insisto, foi ela
a fazer da palavra
artifício
arte e ofício
do meu canto
da minha fala.

***   ***  ***

 

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