Artesão_Foto Agência Minas Gerais_Gov. MG.
E SUA RELIGIOSIDADE NO VALE DO JEQUITINHONHA.
Úrsula
Mulheres que escrevem
Cultura e arte popular
Imagem (site) Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Brasil), Iepha-MG.

 Sobre o poema

Este texto-poema fiz em meu último ano no curso de Letras em um festival para angariar donativos às pessoas da cidade deAraçuaí do Vale do Jequitinhonha/MG.

Meu grupo ficou responsável pela religiosidade e cultura desse amável povo.

Visitamos o Frei Chico, que nos auxiliou com o tema religiosidade. Ele foi padre na Comarca de Araçuaí/MG por quinze (15) anos e rezava as missas congas.

Frei Chico gravou vários cd’s sobre as cantigas das lavadeiras e as benzeduras das benzedeiras.

Lavadeiras – Vale do Jequitinhonha_ Foto de Ivo Ribeiro in Pixabay_2021.

Aprendi muito e assimilei as rezas e cantigas desse povo sofrido, mas feliz.  Daí, veio o estalo da poesia em sala de aula…

Imagem (site) Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Brasil), Iepha-MG.

A aula ia de “vento em poupa” e eu, ausente, sob a luz do sol tórrido, me ardendo entre palavras e visões, escrevendo às pressas,

     – Ei, você ouviu o professor falar que iremos apresentar, também,
lá, em Jequitinhonha?

  – Eu: hem?!!! Ah, tá, iremos.

Peça de Noemisa Batista. Imagem (site) Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de MG (Brasil), Iepha-MG.

E tudo culminou nesse poema em honra aos artesãos jequitinhonhenses.

Imagem (site) Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de MG (Brasil), Iepha-MG.

POÉTICA DO ARTISTA PLÁSTICO E DE SUA RELIGIOSIDADE NO VALE DO JEQUITINHONHA 

    Sou o quinhão de fruto nascido do chão
Pra saciar a fome do pobre.
Sou a esperança dos desafortunados,

Sou “Kéramos“, a terra queimada, da pele queimada,
do sol do sertão.

Inspiro a devoção
De Deus a todo irmão
E as mãos rudes que me modelam,
Na esperança de seu quinhão,

Criam peças pra serventia,
Adornos, santos e profissão.

Há milhares de anos os gregos me conheceram
Caminho paralelo a sua evolução
Sou o peregrino da raça sofrida,

Ô, irmão, sua resistência de vida na fé
É como minha resistência nos componentes do foguete espacial.

O caboclo rude e humilde
Em contraste com a mente criativa
Extrai da terra seu torrão
Soca, sova, amassa, prepara o barro.
Modela sua vida diária.

Feições matutas,
Olhares de esperança,
Utensílios, adornos,
Tudo é modelado entre cantigas e risos,
Que espelha a própria vida.

 São os artesãos do Jequitinhonha,
Os “Aleijadinhos do Sertão”
Vão moldando, vão criando,
Vão enfeitando o caminho.

A arte gerada dessas mãos,
Revela um ato de fé, aceitação.
Plantando, colhendo, pescando, amamentando
É esta a expressão na arte do Vale que fala

Bonecos de rostos familiares,
Manifestações populares,
Tudo serve p’ra inspiração do caboclo artesão

Terra queimada, pele queimada
Nordeste mineiro, pulsa…
O coração brasileiro.
(Vale do Jequitinhonha)


A  AUTORA

Cláudia Rodrigues

Cláudia Rodrigues é palestrante, adora escrever e contar histórias.

NOTAS sobre a cidade de Araçuaí
  •  Localiza-se na região sudeste do Estado de Minas Gerais (Brasil), região muito conhecida devido aos seus baixos indicadores socioeconômicos, em contraste com a beleza do local.
  • Sua riqueza vem do barro cerâmico.
  • Seus habitantes tem traços das culturas portuguesa, negra e de povos indígenas.
  • O nome Jequitinhonha é de origem indígena e significa “rio largo cheio de peixes”.
  • Foi fundada em 1811, pelo alferes Julião Fernandes Taborda Leão, por ordem da Coroa Portuguesa.

    Mapa Estado de Minas Gerais (Brasil)
Notas sobre Frei Chico
  • Francisco van der Poel (ou, como é conhecido, Frei Chico) é holandês e pertence à Ordem dos Franciscanos.
  • Foi pároco da diocese Araçuaí, onde chegou nos anos de 1960.
  • Cativado pela cultura popular local, Frei Chico, escreveu a obra Dicionário da Religiosidade Popular: Cultura e Religião no Brasil, onde  diz da  cultura popular das pessoas que vivem no Vale do Jequitinhonha.

 

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