Arte da editora de Histori-se
e o "Descobrimento"...

Procuro imaginar, tendo por base a historiografia produzida sobre o processo cunhado como Descobrimento do Brasil e documentos produzidos no período pré-colonial e colonial, como seria a chegada da frota de Pedro Álvares Cabral ao nosso litoral de acordo com os ‘brasis que os encontraram.

Brasis são como os nativos aparecem citados em parte dos documentos produzidos pelos europeus ao longo do século XVI.

Dos vestígios desse acontecimento, só temos narrativas feitas por integrantes da esquadra comandada por Pedro Álvares Cabral.
O documento mais famoso é a carta escrita por Pero Vaz de Caminha.

O motivo é simples: ágrafos, os brasis não nos legaram a sua versão na forma de documentos escritos.

Quadro -óleo sobre tela de Cândido Portinari -1965
Quadro – Descobrimento do Brasil – de Cândido Portinari – 1956.

***

Começo minha ideia inferindo: para os nativos, os recém-chegados do além-mar eram estranhos.

De posse desta ideia, eu me entrego ao exercício de imaginar. Leia a seguir:

12 grandes barcos. Quem são os estranhos?
Arte da autora

OS ESTRANHOS CHEGARAM

Para os estranhos, era o ano de 1500.

Os nativos estavam apreensivos. Dias antes, alguns meninos estavam na praia quando enxergaram, no horizonte, enormes e diferentes canoas que, como monstros marinhos, navegavam rumo à praia.

Decidiram observar e manter cautela. O pajé, concentrado, lembrou que povos de longe, do desconhecido, sabiam navegar o grande oceano. Seriam aliados? Inimigos? Estariam somente de passagem?

Perguntas sem respostas. Suposições. Receios…

Todos que estavam na mata e nos roçados foram alertados. Os guerreiros revisaram suas armas. Parte, estrategicamente, se colocou em posições defensivas na região entre a aldeia e o mar. Quem os perceberia protegidos pela floresta? Ninguém.

De um dos grandes barcos, desceu um pequeno que, mais tarde, souberam chamar bote.

O bote, com alguns homens, navegou até a praia junto à foz de um rio. Alguns estrangeiros desembarcaram e tentaram contato com alguns jovens guerreiros. Não se entendiam.

Pensando saber mais sobre os que chegavam, os guerreiros supostamente surpreendidos, se deixaram capturar e serem levados para um dos grandes barcos.

Ali, foram mantidos por algum tempo e observaram tudo que conseguiram. Por um instante, pensaram na possibilidade de serem presos e levados para longe… Não deixaram o temor transparecer.

Libertados, com alguns objetos presentados pelos invasores, eles – após terem certeza de que não eram seguidos, retornaram à aldeia. Novamente, os guerreiros se reuniram na Casa dos homens.

Os barcos se movimentaram e navegaram rente à costa até uma praia de águas calmas. Ali, permaneceram vários dias e noites.

Todos os dias, alguns estranhos chegavam à praia e tentavam contatos com os moradores da terra.

Uma das estratégias era dar presentes ou tentar fazer trocas. Alguns produtos eram diferentes e bonitos, sem muita finalidade prática. Mas outros eram interessantes para facilitar atividades cotidianas. O machado, feito de um material desconhecido, era um exemplo dos objetos práticos.

Uma impressão foi comum a todos: os estranhos não cheiravam bem…

Alguns dos visitantes tentavam conhecer a aldeia e sempre era necessário sinalizar forte: “aos de fora, a praia era o limite”.

O pajé alertou que nova era estava chegando: não seria um tempo de paz.

Um dia, os intrusos uniram dois pedaços de madeira: o maior na vertical e o menor na horizontal e fincaram o maior no chão.

Dias após, foram embora. Voltariam? Sim. O pajé – em sonhos – pressentiu.

Partiram e abandonaram dois dos seus na praia.

A dupla abandonada gritava, chorava, tentava alcançar os navios… Tudo em vão.

Perto da plantação, as mulheres encontram dois meninos estrangeiros. Assustados, mas contentes. Esses não foram abandonados: fugiram.

Arte da autora.

De Cabral à decisão de colonizar

O que diz a historiografia? 
Historieta explica
Arte da autora.

Os navios comandados por Pedro Álvares Cabral permaneceram 13 dias no litoral baiano.

Duas missas foram rezadas e os portugueses consideraram terem tomado posse das terras que – pelo Tratado de Tordesilhas – lhes pertenciam no continente americano.

De início, os lusitanos usaram o escambo para obterem pau-brasil e outros produtos coletados da flora e fauna nativa, além de suprimentos e carregamentos de água potável para os seus navios.

Até os primórdios da colonização na  América Portuguesa (1532 -1534), podemos dizer que os contatos entre povos originários e europeus foram, geralmente, pacíficos.

Apesar disso, os europeus – mesmo que sem intenção, muitas vezes, trouxeram a morte aos nativos ao transmitirem moléstias como o tifo e a varíola.

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Esse foi o tempo das feitorias, ou seja, o período pré-colonial da história brasileira, mas esse é assunto para outro post.

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Referências:

  • CAPRISTANO DE ABREU. O descobrimento do Brasil . Fundação Darcy Ribeiro, 2014.
    Disponível on-line em < o-descobrimento-do-brasil.pdf >. Acesso: set. 2023.
  • LÉRY, Jean de. Viagem à terra do Brasil. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 2007.
  • MAESTRI, Mário. Terra do Brasil – A conquista lusitana e o genocídio tupinambá. Editora Moderna.
  • NEME, S. ., & BELTÃO, M. da C. . (1993). Tupinambá, franceses e portugueses no Rio de Janeiro durante o século XVI.   <  Revista de Arqueologia>, 7(1), 133–151. Acesso: set. 2023.
  •  PRADO JÚNIOR, Caio. Formação do Brasil contemporâneo.14.ed. São Paulo: Brasiliense, 1976, p.2.
  • PRIORI, M. D. História das crianças no Brasil. São Paulo: Contexto, 2004.
  • RAMOS, F. P.  A história trágico marítima das crianças nas embarcações portuguesas do século XVI. In: PRIORI, M. D. História das Crianças no Brasil. São Paulo: Contexto, 2004. p. 19-54.
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