Mestras rebeldes – século XIX
Entre leituras e documentos, encontrei ‘mestras rebeldes’ na primeira metade do século XIX.
Uma das boas sensações ao pesquisar a história é encontrar vestígios de nossas antepassadas demonstrando suas resistências e ideias através de ações e decisões cotidianas.
Encontrar professoras desafiando ou burlando normas para fornecer um melhor ensino foi um prazer.
Na época da Declaração de Independência do Brasil (1822), essas mulheres já existiam!
Antes de dizer das professoras, cabe uma pequena contextualização histórica.
Nossa história começa com a promulgação da Lei que regulou o ensino primário público do então recente Império brasileiro:
a Lei de 15 outubro de 1827 ou Lei Geral.
Lembrou do Dia dos Professores!
Não é por acaso que, no Brasil, a comemoração do Dia dos Professores é no dia 15 de outubro.
A Escola era Diferenciada por Sexo
A Lei Geral do Ensino, de 15 de Outubro de 1827, foi o primeiro dispositivo legal a regular a instrução pública nacional.
Essa Lei definiu currículo e escolas diferenciadas de acordo com o sexo da criança.
A Escola de Primeiras Letras era a primeira fase escolar e tinha a duração de quatro anos.
Os mestres deveriam ter o mesmo sexo de seus alunos, ou seja, mulheres para professoras de meninas e homens para professores de meninos.
A grade curricular era distribuída ao longo dos quatro anos e contava com dois currículos: um previsto para o sexo masculino e outro pensado para o sexo feminino.
Às meninas, era oferecido menos conteúdos de álgebra que aos meninos e a geometria não era ensinada.
O espaço desses conhecimentos era ocupado pelas aulas de trabalhos de agulha (bordado e costura).
Agora, sim, podemos contar sobre as rebeldes.
Os registros de advertências e de punições a professoras deixaram pistas.
Pistas da maior preocupação das autoridades com o coser e o bordar do que com o ler, o escrever e o contar.
Vestígios de resistências e de desobediências ao estabelecido por parte de professoras
Diversas sanções e penalidades ficaram registradas.
Em alguns documentos, ficaram respostas e/ou justificativas apresentadas pelas mulheres repreendidas.
Há professoras que afirmavam ser o aprendizado da escrita e da leitura mais urgente e necessário do que os trabalhos de agulha.
Existem mestras que se recusavam a ministrar um conteúdo menos denso que o ofertado aos meninos.
Benedita e Maria da Glória
Como exemplos das mestras rebeldes, cito as professoras: Benedita da Trindade e Lado de Cristo e Maria da Glória do Sacramento.
Benedita não ministrou trabalhos manuais às suas educandas e foi advertida. Respondeu que não o fazia porque considerava insuficiente o tempo destinado ao aprendizado do cálculo, da leitura e da escrita.
Maria da Glória do Sacramento foi punida, com a suspensão de seu salário, por não ensinar prendas domésticas.
Como citar este post?
CARRA, Patrícia R. Augusto Carra. Mestras Rebeldes. Histori-se, on-line em: < https://historise.com.br/mestras-rebeldes/ >. ISSN nº 2763-8790.
Referências:
- RODRIGUES, Leda Maria Pereira. A instrução feminina em São Paulo. Faculdade de Filosofia Sedes Sapientiae, 1962, p. 83.
- SAFFIOTI, Heleieth, I.B. A mulher na sociedade de classes: mito e realidade. São Paulo: Liv. Quatro Artes, 2013. (p. 275 a 279).