CONVERSAS NA COZINHA
COZINHANDO A CULTURA
A cozinha, desde os primórdios das sociedades humanas, é o centro do lar ou da aldeia.
Nela temos a fogueira que não apaga, o fogão à lenha, os odores das dispensas, a horta e os temperos frescos, as folhas, os frutos.
Cozinheiras e alquimistas revezam-se nos preparos dos xaropes aos pudins.
E a sociedade cria motivos pra confraternizar em volta da refeição, seja ela servida com requintes da velha e nobre Europa ou com palitos orientais.
Dos banquetes que honram generais às festas da colheita ou nos ritos tribais.
Creio, não há como falar em cultura humana sem elencar no topo dos tópicos a alimentação.
Falando em alimentação, nosso instinto primitivo, lembra a ação social das mulheres – quem não traz a lembrança do leite materno?
Mesmo nas mais repressivas e patriarcais culturas, a cozinha é território majoritariamente ocupado por mulheres, as que servem.
Nas conversas de cozinha especula-se, da política às alcovas, permeando toda a possibilidade de conversas num exercício comum de perpetuação cultural.
As mudanças também passam pelas panelas (seja o povo indignado nas janelas espancando caçarolas ou as que acompanham os tempos sociais).
Muda o hábito alimentar, na medida em que se mesclam as culturas. E muda também as formas e os tempos do comer.
Nada mostra melhor o cotidiano de uma comunidade do que os cardápios:
- Quem come?
- O que come?
- Quando come?
- Quem cozinha?
- O que cozinha?
- Quem planta?
- Onde planta?
São perguntas que nos conduzem a um belo ‘raio-X social’.
Ninguém melhor que a encarregada das refeições para saber de economia e – também – dos tempos e temperos de cada um.
Toda cozinheira é em essência curandeira, cheff e alquimista.
A AUTORA
Núbia Quintana