A história de Medusa
Arte: Histori-se
Quem conta um mito, acrescenta uma vírgula…
(Patrícia Augusto Carra)

MEDUSA

Medusa
Arte de Histori-se
Se ela te olhar: estátua!

Era uma vez, uma mulher muito bonita, com belos cabelos.

Ela era linda e sabia. Vaidosa, cuidava do visual, usando roupas e adereços que valorizavam a sua beleza.

Por sua formosura e graça, atraía olhares por onde passava.

A mulher não estava interessada em casos amorosos, até porque era uma sacerdotisa e levava muito a sério o seu papel.

Pode-se dizer que Medusa era uma moça linda, do lar e do templo.

Como sacerdotisa de Atena, ela deveria manter-se virgem até que a deusa autorizasse o seu casamento com algum dos seus pretendentes.

Medusa tinha duas irmãs que também eram sacerdotisas de Atena e muito bonitas; contudo, contam que Medusa – a mais nova das três – era a mais formosa.

Dizem que Atena chegou a ficar brava e até enciumada quando um incauto comentou sobre a beleza das jovens e as comparou à deusa.

O tempo passou e as moças seguiam fiéis aos compromissos de sacerdotisas da deusa, a quem veneravam.

Atena chegou a advertir Medusa sobre os riscos que a sua beleza e vaidade poderiam representar diante da paixão e cobiça dos homens, sugerindo que se cobrisse mais, não arrumasse tanto os belos cabelos.

Medusa não entendia porque cuidar dos cabelos e vestir as roupas de que gostava seriam pretextos para que alguém lhe fizesse mal.
Afinal, não com essas palavras, mas a jovem devia pensar o que já sabemos, né? Meu corpo, minhas regras”. “Não é não”.

Os admiradores de Medusa não ousavam passar da admiração: alguns, por respeito e honra; outros, por temerem Atena.

E, assim, a vida seguia com as três irmãs dedicadíssimas às tarefas do templo e ao culto à Atena.

Design: Histori-se

O DIA FATÍDICO 

O deus dos mares e oceanos, Poseidon, resolveu sair do azul de suas águas para visitar e, talvez, namorar com Atena.

A deusa não estava muito a fim de Poseidon e, muito menos, de visitas, portanto, se mandou para uma temporada no Olimpo.

Quando Poseidon chegou ao templo de Atena, ficou sabendo que ela não estava afim de sua companhia, mas conheceu Medusa, que cuidava da limpeza do local.

Poseidon ficou encantado com a grande beleza da mortal e tentou conquistar a jovem, que nem ligou para ele.

Ferido na sua vaidade divina, Poseidon continuou insistindo, certo de que, um dia, a jovem cederia aos seus encantos. Mas tudo em vão, Medusa sempre dizia “não”.

Orgulho ferido pelas recusas da jovem e pela indiferença de Atena, ele resolveu que Medusa cederia aos seus desejos.

Medusa foi surpreendia por Poseidon nos jardins do templo e foi obrigada a ter relações com ele.

Violentada e com medo, ela buscou as irmãs, que a acolheram e planejaram guardar segredo.

Medusa era a única mortal das três irmãs e todo mundo sabia dos poderes e das paixões dos deuses: Esteno e Euríale consideraram que a proteção da irmã estaria no silêncio. Será?

Mas Atena logo soube que o seu templo havia sido violado e convocou as três irmãs.

A deusa estava irada, não ouviu nenhuma das três. Seu julgamento foi fulminante: Medusa era culpada!

O castigo de Medusa
Arte: Histori-se

O CASTIGO

Os lindos cabelos, dos quais a jovem tanto se orgulhava, foram transformados em serpentes e seus olhos ganharam um brilho que petrificava todos que ousassem lhe olharem.

Medusa ficou apavorada. Mesmo que um dia se apaixonasse: quem poderia estar com ela? Mesmo que desejasse a companhia de amigos ou familiares: que poderia ficar perto dela?

Mas os castigos ainda não estavam terminados. Atena tornou o sangue de Medusa veneno e bálsamo de todos os males. Ao fazer isso, a tornou, para sempre, vítima da ambição dos poderosos.

Esteno e Euríale a tudo assistiram escandalizadas e, quando acharam que Atena havia terminado a sua vingança, a deusa olhou para as duas e as acusou de não protegerem Medusa e lembrou que as irmãs não lhe contaram sobre  o ocorrido.

Atena nada poderia fazer contra Poseidon (pelo menos, naquele momento), mas não poupou nenhuma das irmãs.

Esteno e Euríale também tiveram seus cabelos transformados em serpentes e também ganharam o olhar petrificante.

As górgonas
As górgonas – Arte Histori-se.

O DESTINO

Envergonhadas, as três irmãs foram para local distante de todos e passaram a viver isoladas.

A dor, a solidão e o sentimento de injustiça enlouqueceram Esteno e Euríale, que foram ficando cruéis.

Medusa ficou, cada dia, mais triste e, vez por outra, passeava entre as estátuas que havia produzido ao olhar para algum incauto, aventureiro ou perseguidor
(a notícia dos poderes do seu sangue lhe legou muitos perseguidores).

Ela sabia que bastaria olhar para o seu reflexo para ser mais uma estátua, mas ela seguia o seu destino vivendo como górgona, assim como as suas irmãs.

Medusa (1630), por Gian Lorenzo Bernini

O FIM

Uma noite, enquanto dormia junto às irmãs, um homem jovem de nome Perseu entrou em sua gruta.

  • Ele usava o capacete de Hades, portanto, estava invisível.
  • Calçava as sandálias e trazia a espada de Hermes – por isso, voava.
  • Trazia o escudo de Atena, o qual usava como espelho para não olhar para Medusa e escapar de virar estátua.

Trazia ainda uma sacola especial para colocar a cabeça da górgona.

De súbito, guiando-se pelo reflexo no escudo, Perseu cortou a cabeça de Medusa e a guardou na sacola.

Do corpo de sua vítima, nasceram Pégaso e Crisaor: filhos de Medusa e Poseidon.

Acordadas pelo barulho, Esteno e Euríale choraram de profunda dor pela perda da irmã enquanto Perseu fugia.

Poseidon? Poseidon continuou por aí vivendo sua vida de deus grego.

Notas:

  • Há diferentes versões desse mito; em uma dessas, Atena teria transformado as irmãs em górgonas para as proteger do assédio dos homens. Será? Quem protege punindo a vítima?
  • Em algumas versões, Pégaso nasce de uma gota do sangue de Medusa que cai sobre a água do mar.
  • O sangue de Medusa que corria do lado direito do corpo era um poderoso e fulminante veneno, já o que corria do lado esquerdo era um remédio que tudo curava, capaz até de devolver a vida em alguns casos.
  • Górgonas são, em geral, definidas como monstros originados de mulheres, com cobras no lugar de cabelos e que transformavam em pedras ou estátuas de pedras quem olhasse para os seus rostos e eram conhecidas por terem o poder de transformar em pedra aqueles que olhassem diretamente para o seu rosto. Na versão narrada por Píndaro, elas, diferente do frequentemente descrito, eram bonitas e donas de  bela cabeleira.

Como citar?

CARRA, Patrícia R. Augusto Carra. Medusa. Histori-se, Vol. 2, No. 11, fev., 2023. Disponível on-line em <  https://historise.com.br/medusa/>. Acesso em: data do acesso.

Referências:

  • BELLINGHAM, David. Introdução à mitologia grega. Lisboa: Estampa, 2002.
  • BRANDÃO, J. de Souza. Mitologia Grega. vol. I. Petrópolis: Vozes, 1986.
  • CENCILLO, L. Mito: Semântica e realidade. Madrid, 1970.
  • GRIMAL, Pierre. Mitologia grega. Porto Alegre: L&PM, 2010.
  • HESÍODO. Teogonia: Trabalhos e dias – 2. Ed. – São Paulo: Martin Claret, 2014.
  • JUNG, C. G. O inconsciente pessoal e o inconsciente coletivo. Petrópolis: Vozes, 1942.
  • ___________. Os Arquétipos e o inconsciente coletivo. Petrópolis: Vozes, 2000.
  • OVÍDIO. Metamorfoses. Trad. de Paulo F. Alberto. Lisboa: Livros Cotovia, 2007.
  • ROBLES, Martha. Mulheres, mitos e deusas: o feminino através dos tempos. São Paulo: Aleph, 2006.


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