Diadorim
Mulheres ao sul do Brasil

Esta crônica é parte de uma coletânea que diz de cotidianos de uma mulher do sul do Brasil e de seus afetos.
Confira!

Bom dia!
Arte: Histori-se

Crônicas de Mulheres ao Sul do Brasil
***

– BOM DIA, MÃE!!!

– Oi, minha filha! Já no trem?

– Sim, já. E tu, ainda na cama?

– Sim, mas eu já ia levantar. Hoje tenho pilates com a Tânia.

– É, aí precisa tomar café mais cedo mesmo…

– Ivana, vê que tu pega um ônibus. Ainda está muito escuro pra ir caminhando até o colégio.

– Não te preocupa mãe… Tu viu a descoberta de escutas no gabinete da Dilma, do assessor dela, o Anderson Dornelles, de ministros brasileiros? A denúncia do WikiLeaks saiu até no G1!

– Sim, espionaram até o Antônio Palocci, que é da Casa Civil! E parece que essa espionagem se estendia a outros países.

– É, Alemanha, França…

– E, imagina, com o Obama na presidência! Esses Estados Unidos são uma ferida!

– Pois é… E o que será que eles querem, né?…Alô, mãe? Tá me ouvindo?…Hummm…

– É por causa da região… – comentou Ângela, sentada ao lado de Ivana, no trem que as levava até Sapucaia e São Leopoldo.

Seta indicando que o texto continua abaixo

ÂNGELA

Ivana era docente no Instituto Federal, descia antes da amiga.

Ângela ia até São Leopoldo, trabalhava na empresa Rossi, no setor de qualidade.
Na verdade, ela era frequentemente deslocada para vários setores da fábrica de armas por sua competência em aprender e realizar as tarefas.

Ivana a conhecera no trem, embarcavam todos os dias no mesmo horário; tornaram-se amigas e conversavam ao longo da viagem.

Claro, sempre havia aquela interrupção: enquanto ia para o trabalho, Ivana ligava regularmente para a mãe.

Afinal, apesar da idade de 76 anos, aquela mulher que trabalhara no comércio e criara três filhos mantinha o hábito de levantar muito cedo.

Ivana optou por desligar o celular e fazer nova ligação.
Um pouco de demora, a mãe então atendeu.

Oi. Não sei o que deu nesse celular! – reclamou.

– Mãe, deve ser por causa da região, do movimento do trem..,

– É, pode ser.

-Vai tomar teu café, te prepara pro pilates…

– Claro! Não vejo a hora de fazer essa cirurgia do joelho!

– Vai ser logo, mãe! Com o controle da nutricionista e o pilates, vai ser logo. E tu tem que estar bem fisicamente pra te recuperar bem depois da cirurgia, né mãe?

– Tá bom, filha. Um bom dia pra ti! Tu volta tarde hoje?

– Não, hoje saio do IF às 18.

– Tá, te cuida. Tô com saudades…

– Eu também! Logo vem as férias de julho, aí vens pra cá… Que tal?

– Vai ser muito bom! – a voz era um sorriso – Fica com Deus. Te amo, filha!

– Beijo, beijo, mãe. Fica com Deus. Eu também te amo. Beijo.

Seta indicando que o texto continua abaixo

    Ivana certificou-se que desligara o telefone.

– Nossa, já estamos em Esteio!

– Sim, embarcou pouca gente nas paradas… E hoje é segunda, hem?

– Pois é, Ângela! Que legal que vocês passaram o findi com tua irmã!
Sapiranga não é tão longe, a gente tem que tirar um tempo pra se ver, pra conversar… E ainda bem que existe o celular hoje!

– Verdade. Falo com ela quase sempre nos sábados, mas fazia tempo que a gente queria se juntar. Olha aqui a nossa foto juntas…

 Ivana olhou a foto, o sorriso amplo das duas, os maridos ao lado.

– Vocês duas têm um sorriso muito parecido! Vou ter que descer… – e Ivana colocou-se em pé.

Um bom dia! Até amanhã!

– Pra ti também, Ângela! Até amanhã!

Seta indicando que o texto continua abaixo

IVANA

Ivana desceu na estação Sapucaia. Sorriu, a temperatura daquele dia de julho estava bem agradável.
Enquanto descia a passarela, lembrou carinhosamente de Janine.

Ela morava em Sapucaia, mas desde que assumira um novo trabalho, com um horário de início mais tardio, Ivana não falava com a afilhada pela manhã.
Às vezes almoçavam juntas em um restaurante perto do IF.

Janine a buscava de moto, o deslocamento ficava mais rápido e divertido.

O CÉU CLAREAVA

Ah, a Aurora de róseos dedos!

Decidiu ir a pé até o Instituto. Acomodou a bolsa à moda tiracolo e misturou-se aos transeuntes.
Alguns entrariam no supermercado, onde bateriam o ponto.

Outras sentariam em frente à padaria onde trabalhavam até que pudessem entrar para iniciar a labuta diária.

Outros enveredavam por ruas laterais cujo destino Ivana desconhecia.

Na sala de aula, alunas e alunos esperavam para ler com ela.

Que obras teriam escolhido para as leituras daquele dia?

Sorriu e passou a encher os olhos com a paisagem simples enquanto apressava os passos.

Porto Alegre, 8 de julho de 2015
23h20minmarca Histori-se

IRMA

Clique no link a seguir para ler a próxima crônica
da coletânea Mulheres ao sul do Brasil :
Irma>.

Notas:

  1. I F = Instituto Federal;
  2. findi = expressão para se referir a “final de semana”.
  • Leia outras produções de Vera Haas em < DIADORIM >.
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