Históricas Contemporâneas
“A arte é muito se expor na sua sensibilidade”
LU BARROS
Nossa conversa foi via Google Meet, como tinha que ser nestes tempos, ainda pandêmicos.
Uma entrevista leve e que, em breve, repetiremos; contudo esperamos que seja ao vivo e com todas as cores e risadas que nos encantam.
A GAROTA MUSICAL PENSAVA QUE NÃO CANTARIA. COMO É ISSO?
O pai, músico tradicionalista, tocava vários instrumentos “de ouvido”.
A guria admirava; contudo, pensava: não seria música. Penso que soubesse ser da música.
Ouvindo a Lu Barros contar sobre o enamorar-se com a música, sobre a musicalidade vivenciada em casa e, ao longo da vida, assim como sobre os seus caminhos, até autorizar-se cantora, compositora e intérprete – penso em Euterpe (musa grega da música): alegria de viver, de tocar, cantar, musicar.
Se todas a musas cantam, Euterpe estuda o cantar, o musicar.
“Na época, eu tinha uma ideia de perfeição. De estar à altura dos músicos que trabalhavam comigo.
Eu passei a vida aprimorando o meu cantar e, simultaneamente, me apresentando com a consciência de que eu estava onde devia estar”
PASSEI A VIDA APRIMORANDO O MEU CANTAR
O curso de técnica vocal foi o primeiro de muitos cursos e dessas experiências, ela diz: “a gente tem condições, sim, de fazer coisas que a gente gosta” e, com especial carinho e atenção, diz dos professores e das professoras que a acompanharam pelas estradas musicais; dos quais – além de técnicas – recebeu, o melhor suprimento para seguir na sua paixão: incentivo.
Em certa parte de nossa conversa, Lu conta sobre ter cursado a faculdade de Direito e trabalhado por 32 anos no Tribunal Regional do Trabalho (TRT): um ambiente bastante formal.
E se, aparentemente, a arte musical estaria no escanteio, ledo engano.
Além de usar a sua remuneração para também alimentar o constante aprendizado nas artes relacionadas à música, ela descobriu, naquele espaço profissional, momentos onde podia exercitar o canto: como solista em cerimônias solenes. “Mesmo no Tribunal, eu era conhecida como cantora”.
“A música não me sustentava, mas eu sempre busquei remunerar os músicos que trabalhavam comigo”.
É, Lu, você está me lembrando uma cantora/compositora que amo ou, pelo menos, uma de suas composições. Digo da música “Alguém me avisou”, de Dona Ivone Lara:
“[…]
Sempre fui obediente
Mas não pude resistir
Foi numa roda de samba
Que eu juntei-me aos bambas
Pra me distrair[…]
Eu vim de lá, eu vim de lá, pequenininho
Mas eu vim de lá, pequenininho
Alguém me avisou
Pra pisar neste chão devagarinho[…]”
A PALAVRA MUSICADA
Já estava casada quando se aventurou pelo autoral e passou a compor: “após o trabalho, à noite, enquanto o marido cursava a faculdade de Direito, exercitava a composição”. E, aos poucos, foi exercitando o canto, as suas composições para o público. O começo foi no Sindicato dos servidores da Justiça – no Sintrajufe.
Nas aulas de canto, com diversas orientações ao longo dos anos, e especialmente naquelas de interpretação para o canto, com o diretor teatral e grande amigo Delmar Mancuso, sentiu-se realizada enquanto artista.
Esse foi um pequeno momento de afastamento do autoral para um maior investimento na Lu atriz, intérprete musical: “música é o que mais gosto”.
Ao longo de suas experiências, participou de corais, transitou pelo canto lírico, especialmente nas aulas com Ida Wiesfield, formou bandas, compôs parcerias, fez shows, festas e… autorizou-se a gravar um disco.
VIVENDO E TRABALHANDO COM O IMPONDERÁVEL
[…]
Ó padrinho não se zangue
Que eu nasci no samba
Não posso parar[…]
MAS O DISCO AINDA ESTÁ NO CARITÓ, OU SEJA, NA PRATELEIRA EM UM CANTO DA CASA. POR QUÊ?
No meio do projeto, veio a pandemia que vivemos. Como muitas de nós, inclusive eu, a Lu colocou alguns projetos na ‘estante da espera’, criou novos fazeres, permitiu-se novas experiências, lidou com o imponderável.
“A gente não está aqui por acaso. […]. Nossa sociedade, criada para incentivar a competição e não para olhar para o todo”. Com frases como estas, Lu me diz do disco que está na espera (quem sabe gestando-se mais um pouco) e das lives da Lulu.
Sem cantar não dá para ficar! E tem gente precisando de ajuda!
As lives, sempre beneficentes, passaram a ser o palco de Lu Barros e, também, de outros artistas.
E aprender a fazer live? E tocar, cantar, lidar com partitura tudo junto? Sem falar na parte técnica, e em uma das predileções descobertas na pandemia: cenários. A cada semana, ela dedicava horas para ajustar cada detalhe de um novo cenário…
TU FICASTE SOZINHA EM CASA. O QUE TU FAZES COM ISSO?
“Fiz lives semanais. Fiz mais de quarenta. Pra esta realização, também contei com a ajuda de muitas pessoas, como em praticamente tudo o que realizei até hoje”.
LIVE E INFORMAÇÃO
“Essa pandemia trouxe muito de a gente limpar dentro da gente o que é valor e o que não é”
Além do palco (que virou o espaço capturado pela live), da música, da ação beneficente. Lu pesquisou para compartilhar informações conscientes e práticas sobre os cuidados durante a pandemia.
“Mas tinha uma coisa muito legal, das pessoas que assistiam trazerem as suas dicas pra serem colocadas nas lives.
A #livedalulu era bastante interativa em todos os sentidos, inclusive abrindo espaço para promoções do trabalho de amigos e de quem aparecesse.
Teve sorteio de pizza, de artesanatos, rifas, dentre outras coisas. Além disto, nas últimas, participações muito especiais de outros artistas que convidava, incluindo pintura ao vivo”.
A MULHER ERMITÃ
Assim, nossa histórica se definiu nesses tempos pandêmicos. À medida em que ela descrevia essa mulher ermitã, eu tirava o foco da Lu e ia me enxergando e lembrando outras “mulheres ermitãs”.
Foi uma necessidade? Sim. Mas muito mais que uma necessidade: uma opção de seguir os protocolos e propiciar cuidados, companhia e segurança à sua mãe. E que surpresa! Quando, além de cuidadora, se descobriu cuidada pelo zelo materno.
Desculpem os rapazes, mas ser um homem ermitão não é comparável à vivência de uma mulher ermitã.
A Lu mulher lembra que estava sem amor (Eros) quando teve início o período de isolamento social e que, ao pensar no amor, pensa-se, também, na sexualidade. E dizemos da relevância do toque, do amar-se, do cuidar-se por gostar-se e não por padrões.
AGORA, A GENTE, COMEÇA A PRIMAVERAR-SE
Uma primavera, ainda, receosa.
Parece que perdemos o jeito ou que estamos ensaiando nosso primaverar.
Mas, antes de dizer desse novo ciclo, Lu lembrou que a pandemia e seus desdobramentos trouxeram o envelhecer para as suas reflexões. Sim, o inevitável, envelhecer. E aí?
Entre as considerações, está a relevância de alimentar os nossos espíritos com interesses de vida. No caso da Lu, há um universo musical (e não apenas). Está o pensar sobre a a beleza padronizada e observar a que cultivamos ou apreciamos em nós.
Alô! Aqui, não dizemos contra a vaidade.
E nem poderíamos, já que nos sabemos e nos gostamos vaidosas. A Lu lembra: “A beleza está em se sentir bem com a gente”.
A Lu mulher lembrou de seus amores/parceiros e já decretou que, se alguém quiser caminhar ao seu lado, deverá ter também os seus interesses, a sua individualidade. Só assim, para além de encontro, paixão e cumplicidade.
Falamos sobre saudades de amigos, de encontros. E, ainda, falava de saudades quando olhar da artista a denunciou.
Mesmo cantando pelas lives, a câmera – por melhor que seja, especialmente quando a plateia entende que suas manifestações, curtidas e comentários são o que fazem a artista sentir que há, ali, ainda que virtualmente, uma plateia – tal qual a plateia vê, sente e se beneficia da presença da artista, mas não substitui o olho no olho do público.
Nossa artista tem muitas saudades do palco, melhor dizendo, do público ao vivo.
Contou que anda dançando. Aulas virtuais de dança. Faz parte do movimento de sair do casulo, este ensaio. Eu, também, ando ensaiando por aqui.
Ensaiamos ‘primaverarmos’… Segunda dose em dia e inícios de movimentos: um encontro com amigos, ao ar livre, para observar o fenômeno Lua Azul, junto a uma fogueira e vibrando, em conjunto, boas intenções para si e para o mundo, uma visitinha ao litoral para molhar os pés na água do mar, caminhar na areia …
E aquele disco que ficou no caritó?
“Agora, estou trabalhando em uma nova composição“, ela conta. Diz que o tema é os povos indígenas. Lembra a delícia e a força de estar na natureza, o sempre morar com vista para o Guaíba, as preocupações ambientais.
MAS E O DISCO, QUE FICOU NO CARITÓ?
De repente, vem a resposta. Neste movimentar-se, quer retomar os trabalhos para gravar o disco e pensa em como viabilizar este projeto no atual contexto.
E, para encerrar nosso bate papo, algumas perguntinhas estilo ‘bate-bola jogo rápido’:
- Histori-se: Padrões de beleza?
- Lu Barros: Nos engessam, na medida em que, por vezes, nos fazem perder de vista o padrão da nossa própria beleza e, não raro, levamos um tempo para entender isso, que temos, cada pessoa, uma beleza única.
- Histori-se: Amor?
- Lu Barros: Se quer amor, ame.
- Histori-se: Alegria?
- Lu Barros: O agora.
- Históri-se: Cuidado?
- Lu Barros: saúde.
- Histori-se : Plenitude?
- Lu Barros: Falta de dúvidas.
- Histori-se: Dúvida?
- Lu Barros: Será que chove?
- Histori-se: Um desejo da Lu Mulher?
- Lu Barros: Autenticidade. Ser inteira no mundo.
- Histori-se: Lu Barros por Lu Barros?
- Lu Barros: Simples. Uma simplicidade com luz e cor, talvez com flor.
Lembra que a Lu está trabalhando em uma nova composição?
Histori-se ganhou uma amostra de presente. A Lu cantou um pedacinho.
Compartilho? Lógico que sim.
Mas a Lu lembra que, ainda, está compondo; ou seja, nosso presente é um belo rascunho.
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