Arte: Histori-se

A literatura tem o potencial de auxiliar na compreensão e na discussão de temas considerados difíceis e, ao mesmo tempo, vitais.
O racismo, a xenofobia, violências e preconceitos são exemplos desses temas.

Através das narrativas, conseguimos a empatia e a vontade de saber mais e/ou a atenção em relação a diferentes temáticas.
A leitura consegue nos propiciar um alargamento de universo na compreensão de si e do mundo.

A literatura infantil e infantojuvenil é também oportunidade de construções de vínculos entre os jovens leitores e os adultos mediadores, assim como, porta para o voar da imaginação.

Capa do livro Poesias infantis de Olavo Bilac
Figura 1

Literatura infantil e pedagogia

É comum ouvirmos ou lermos sobre a importância da leitura no processo ensino-aprendizagem tanto nos educandários como em outros espaços formativos.
Professoras e pedagogas buscam, discutem e compartilham maneiras conciliatórias do uso pedagógico das obras, em especial daquelas de literatura infantis ou infantojuvenis, com o espaço único do universo leitor/ obra.

Pensar o livro enquanto colaborador da instrução e da educação em valores e atitudes é, historicamente, uma ação antiga.

Material pedagógico

Livros, enquanto instrumentos pedagógicos, encontramos já no século XVIII, na Europa, e a partir do século XIX, no Brasil.

Na Europa, com burguesia ascendente, os séculos XVIII e XIX foram celeiros de obras visando a instrução dos públicos infantil e infantojuvenil.
O crescimento do mercado editorial, em especial, na Inglaterra, na década de 1740, colaborou com a expansão do mercado visando essa etapa da vida.

Materiais didáticos, ferramentas para a alfabetização, eram elaborados com histórias, poesias e, ainda, com textos onde estavam embutidas lições morais, religiosas e sobre o  então entendido como bom comportamento social.
Apresento dois exemplos:

  • A Little Pretty Pocket-Book. Ano de publicação 1742. Autor: John Newbery.
  • The Story of the Robins . Ano de publicação: 1786 . Autora: Sarah Trimmer.

E aqui em Pindorama?

Contos da Carochinha
Capa livro Contos da Carochinha
Figura 2
O século XIX é o marco da literatura infantil e infantojuvenil no Brasil.

Traduções de obras publicadas na Europa e de autores nacionais conquistaram espaço no mercado literário nacional.
As bibliotecas escolares eram os maiores destinos dessas publicações.

No ano de 1894, Contos da Carochinha foi publicado pela Livraria Quaresma.

Um livro pensado para as crianças foi a diretriz dada ao autor, Figueiredo Pimentel.
Uma coletânea com histórias que circulavam oralmente em nossa cultura e com algumas, publicadas em Portugal.

Figura 3
O trabalho e a economia
São as bases da riqueza

Observe os versos de Olavo Bilac que concluem a poesia “As formigas”.

Em geral, de 1889 ao primeiro quartil do século XX, a produção de conteúdo voltado para formação moral, ética e cívica direcionada ao público infantil ganhou ênfase na recente República brasileira.

 A motivação principal era o entendimento da arte literária como facilitadora para a educação tanto no ambiente escolar como para além dos muros da escola.
O caráter de grande parte do universo desses livros para a infância é cívico-pedagógico.

A infância resultaria em homens e mulheres adultos.

Era necessário formar este pequeno futuro e, nesse fazer, havia a preocupação com uma produção que fosse acessível e aprazível aos brasileiros mirins.

Quais conteúdos, histórias e poesias, ensinariam às crianças e jovens?

Os categorizados como morais, religiosos, dos cuidados higiênicos, do convívio social, do trabalho, entre outros.

Exemplos de autoras e autor desse período:

  • Adelina Lopes Vieira
  • Júlia Lopes Vieira
  • Olavo Bilac

Junto às produções nacionais, encontramos muitas traduções de livros estrangeiros.

Figura 4

Literatura infantil e infantojuvenil para além do pedagógico

Coelho Branco passava apressado…

Alice no país das Maravilhas, obra de Lewis Carroll publicada em 1865, é considerada um marco no desatrelamento dos livros para crianças e jovens do objetivo pedagógico.  Isso na Inglaterra vitoriana.

A Menina do Nariz Arrebitado e O saci, ambos datados de 1921, fazem este papel no Brasil.

Essas obras de Monteiro Lobato deixam esta marca; contudo, somente nos anos 1960, a gente observa maior investimento em qualidade e design gráfico e crescimento significativo do universo das narrativas infantil e infantojuvenil no mercado brasileiro.

As duas obras de Monteiro Lobato trazem o fantasioso, o folclórico e uma percepção diferenciada da criança brasileira da época: ela não é – somente – o que virá, mas participante da construção da cultura nacional, a partir de suas relações com contos e tradições orais presentes em nossa sociedade, mediadas pela escrita do autor.

Capas livros A Menina do Nariz arrebitado e O Saci
Figura 5
A história a ser contada, a imaginação, o universo lúdico, a perspectiva infanto e juvenil ocupam o posto de primeiras preocupações de escritoras e escritores.

Questões da vida, por exemplo, saudade, e temas sociais, étnicos, ambientais, entre outros, fazem parte da diversidade de publicações presentes em livrarias físicas e virtuais.

Se, no início de suas publicações, a literatura infantil e infantojuvenil nascia com um destino pedagógico, aos poucos, essa categoria foi ampliando seus horizontes e consolidando-se como um gênero artístico-literário instigante e de temáticas diversas.

O livro saiu da escola?

Decerto que não.  O mercado escolar é, ainda, um espaço valioso para livros categorizados como infantis e infantojuvenis.

Uma das preocupações de professoras, psicopedagogas e pedagogas está na questão da experiência leitora.

Como e quando, dentro de uma grade curricular ou do espaço-tempo escolar ou para além dos muros dos educandários, crianças e jovens podem experenciar o livro de forma livre, prazerosa e singular?

A esta interrogação, encontramos lindas respostas, em formas de relatos de experiências docentes.
Há caminhos e os vemos sendo experienciados e criados nos diferentes espaços educativos.

histori-se

Notas: 

Imagens: arte Histori-se. 
  • Capa do livro Poesias infantis de Olavo Bilac
    Figura 1

Destaque da imagem: capa de Poesias Infantis de Olavo Bilac –  No site <  da Biblioteca Brasilianavocê pode ler o livro. Confira!

  • Figura 2. Destaque livro Contos da Carochinha . Fonte <  Amazon >, data 27/03/2024.
  • Figura 4. Fonte imagem do livro Contos Infantis (1886), de Adelina Lopes Vieira e Julia Lopes de Almeida ( de vestido preto) <  Brasiliana de literatura infantil e juvenil >.

Referências:

  • ARROYO, Leonardo. Literatura infantil brasileira. São Paulo: Melhoramentos, 1968.
  • BILAC, Olavo. Poesias infantis. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1904.
  • LAJOLO, M., & ZILBERMAN, R.. Literatura infantil brasileira: história & histórias. São Paulo: Ática, 1999.
  • PIMENTEL, Figueiredo. Contos da Carochinha. São Paulo: Editora Quaresma, 1958 [1894].
  • RUSSEL, D. L. (2015). Literature for children: a short introduction. New Jersey: Pearson.
  • VIEIRA, Adelina Lopes; ALMEIDA, Julia Lopes de. Contos Infantis: em verso e prosa. 9. ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1913.
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