DOIS CASOS DE AMOR E TRANSFORMAÇÃO SOCIAL NA LITERATURA

Imagem disponível in pexels. Autoria: Jonathan Borba.
DIADORIM
Cinema & Literatura

DOIS CASOS DE AMOR E TRANSFORMAÇÃO SOCIAL NA LITERATURA

De fato, o amor é um dos temas mais recorrentes na literatura, na música, nas artes plásticas, no cinema… Por vezes o amor é focalizado em sua expressão mais intensa como uma necessidade existencial, ou como uma dor persistente, como em A benfazeja e Soroco, sua mãe, sua filha, respectivamente, contos de Guimarães Rosa, ou uma dúvida nunca suficientemente resolvida em Dom Casmurro, de Machado de Assis, ou ainda um jogo de sedução em As relações perigosas, de Choderlos de Laclos, ou uma dura descoberta da solidão quando a menina passa a ter consciência de seu corpo e de sua condição de mulher em um mundo cujas regras são feitas por homens e para os homens em O amante, de Marguerite Duras.

E poderíamos pensar na ousadia do jovem casal em Romeu e Julieta, de Shakespeare, com adaptações cinematográficas instigantes como Romeu + Julieta, ou ainda no poeta e na cortesã enamorados em Moulin Rouge – o amor em vermelho, duas obras do diretor Baz Luhrmann ou nas confissões amorosas e díspares de duas mulheres em situação de espera, em Ninguém deseja a noite, da cineasta Isabel Coixet.

Como leitora, em grande parte dos textos [i] acima indicados, a expressão artística alcançada com o manejo das linguagens me impactou com a força de um golpe e, ao mesmo tempo, ainda me ilumina pelo maravilhamento da representação do gesto amoroso.

Nunca diga “Eu te amo” de Senel Paz e Como água para chocolate de Laura Esquivel

Ultimamente, no entanto, dois textos bailam em minha memória. Trata-se de um conto e de um romance. Vários aspectos os relacionam. Por exemplo, Senel Paz e Laura Esquivel nasceram em 1950. Filho de família muito pobre que vivia na região rural, Paz era ouvinte atento das histórias contadas pelos camponeses. Esquivel perdeu o pai ainda criança e foi criada em uma casa gerida por duas mulheres que cozinhavam e contavam histórias – a avó e a mãe.

Nas duas obras que estão a me chamar a atenção há alguns anos, os dois escritores apresentam momentos de uma revolução que afetou profundamente o país de cada um, Cuba e o México respectivamente.

Nunca diga “Eu te amo” de Senel Paz e Como água para chocolate de Laura Esquivel conduzem o leitor às sensações experimentadas por jovens que descobrem o sexo e o amor. No conto do autor cubano, encontramos um rapaz que, guiado por conselhos de um colega, relata sua primeira noite de amor. A protagonista do romance mexicano narra a história de amor da tia-avó Tita de quem, segundo sua mãe, herdara as habilidades culinárias que redundam em pratos deliciosos e capazes de despertar as emoções de quem os saboreia. Se para o entusiasmado Pedro parte da descoberta será partilhada com os amigos da escola, a caçula da família De La Garça precisa lutar contra uma tradição que proíbe a realização de seu amor e impede a liberdade de escolha da mulher.

Em Nunca diga eu te amo, o fluxo de consciência empresta verossimilhança à história da qual emergem as inseguranças de um rapazinho que deseja apresentar-se já como homem para a jovem a quem entregará sua virgindade. Em Como água para chocolate, o realismo mágico funciona como metáfora que conjuga os costumes locais, as lendas e o dia-a-dia [ii] de uma moça que gradualmente subverte o papel que exerce na cozinha e assume o controle da própria vida, transformando-se em provedora dos alimentos necessários à família e a si mesma.

I – O CONTO DE SENEL PAZ

HOMENS SENTEM MEDO, SABIA?

O conto é narrado em primeira pessoa por Pedro, o protagonista. A narrativa inicia com a informação de que ele dormirá com uma mulher naquela noite. Claro, o personagem narrador confessa ter ocultado o nome da jovem, embora acredite que todos saibam tratar-se de Vivian: “nesta escola ninguém é bobo” (p. 99, 2003). Nas primeiras quinze linhas, ele conta como se preocupou com o asseio íntimo durante o banho porque Arnaldo, um expert no assunto sedução, informara que nunca se esquece a primeira vez – referia-se, sim, à moça: “[…] e repassava mentalmente os lugares onde a beijaria, onde teria de beijá-la, segundo o Arnaldo, para que nunca mais me esquecesse, para que nunca se esquecesse desta primeira vez com um homem, comigo […]” (p. 99, 2003). As palavras grifadas no texto – parte da história – revelam a obrigação do rapaz-homem para a obtenção da perenidade de sua imagem na memória da moça-mulher.

O conto desvela os devaneios do rapaz, seu receio de ofender ou assustar a colega e namorada e sua ansiedade porque aquela será a primeira experiência sexual dele e deve mostrar que sabe o que fazer com a moça. Vivian também é virgem, e esse fato funciona tanto como atrativo quanto como elemento assustador devido às narrativas apavorantes de que o rapaz teve conhecimento, envolvendo “terríveis sangramentos” (p.106, 2003) entre outras situações muito preocupantes. Em meio a essa situação, Pedro – ou Pedrinho, como é reiteradamente tratado por Arnaldo e pelos colegas – precisa conquistar a confiança dos militantes para tornar-se um.

O rapaz desejava muito ser um membro ativo da juventude comunista cubana, mas não alcançara as condições para tal. Assim, embora tivesse sido um aluno exemplar no colégio, não se tornara um militante “porque me faltava maturidade, me disseram, e tinha que trabalhar, me disseram; e me deram um ano para que trabalhasse e atingisse a maturidade, para que lesse os jornais, o noticiário internacional. E eu fazia tudo isso até que Vivian chegou à aula” (p.102, 2003). Segundo o narrador, a chegada da menina interrompe a dedicação de Pedro, motivo pelo qual ele não é eleito novamente e, outra vez, não se torna um militante. Arnaldo, em quem Pedro reconhece uma espécie de mentor político, esclarece ao jovem que seu problema é a Vivian, ou melhor, o ponto a que chegou o relacionamento dos dois. O amigo experiente, quase um irmão, recomenda que transem; afinal, se Pedrinho não fizer isso “nunca mais você vai ser um militante” (p. 102, 2003).

Embora defenda Vivian e questione o amigo, Pedro acaba convencido. A argumentação de Arnaldo reúne a liberalidade das moças da época ao novo modo de vida, ao socialismo – afinal, os bordéis em que os meninos eram iniciados eram “uma chaga social, e, claro, tiveram que eliminá-la” (p. 102, 2003). Arnaldo não se refere à iniciação de meninos determinada por seus pais, mas ao bordel e às prostitutas [iii]. Na Cuba de 1967, homossexuais e prostitutas não são bem vindos, nem mesmo aceitos.

A preocupação de Pedro com Vivian e sua reputação e a preocupação da moça já no quarto, quando ela precisa decidir se dá vazão ao próprio desejo ou se desiste devido à feiúra do lugar – e, claro, às convenções que os assombram – mesmo ouvindo do namorado que podem sair sem transar, demonstram a visão que a comunidade tinha das mulheres que agiam com liberdade – “agiam como prostitutas”. Arnaldo só conseguira a aquiescência do amigo porque utilizara um discurso em que alinhava a liberdade sexual feminina ao novo sistema, o socialismo vigente. O novo sistema formava aqueles jovens estudantes; logo, as palavras de Arnaldo faziam sentido.

As lembranças trazidas pelo personagem narrador referentes às conversas entre ele e a namorada indicam que ambos admiram os condutores do país e, particularmente, o guerrilheiro Ernesto Che Guevara. Vivian encapa seus cadernos com imagens do Che. Pedro exalta o líder e acalma as preocupações da moça quanto à segurança do soldado. E, juntos, no pátio do colégio, eles recebem a notícia do assassinato de Che Guevara. O relato desses fatos políticos entranhados na vida comezinha dos estudantes, ao estruturar a época da história, funciona como alicerce para a compreensão dos valores perseguidos por aquela geração, já desejosa de participar de um mundo novo, o qual é necessário construir, como lembra o letreiro luminoso.

O futuro militante Pedro precisa ser o homem capaz de querer uma mulher liberta, uma mulher que transe antes do casamento. Por outro lado, o receio de ultrajar Vivian, o medo dos dois de que o Diretor da escola, a mãe de Vivian e o próprio Ministro da Educação descobrissem o que faziam e ficassem escandalizados e as ponderações da jovem quanto ao que sua família pensaria revelam os valores a que ainda estão presos. A instituição casamento, a pureza da noiva e as atitudes respeitosas dos homens para com mulheres que não fossem como as dos bordéis deixam entrever o descompasso entre a mudança econômica e a resistência à transformação de padrões e hábitos sócio-culturais.

LIBERDADE DE ESCOLHA E MANUTENÇÃO DA TRADIÇÃO

Ao colocarmos os discursos de Arnaldo sob uma lente, percebemos que ele re-arranja o mundo em conformidade com as ideias do governo de Fidel, mas sem abandonar um ponto de vista que retira às mulheres o direito à honestidade masculina nas relações amorosas. Segundo ele, a experiência demonstra que as mulheres não gostam de saber o que o homem sente. Ficar calado sobre as emoções que sente é a melhor estratégia para a conquista e para a manutenção dessa mulher consigo. Inclusive, essa é uma atitude de auto-preservação: no momento supremo, nada de dizer “eu te amo” porque “se uma mulher sabe que você a ama, olha, aí mesmo é que você se perde, ela te corre a bala, te faz sofrer por gosto” (p. 99, 2003). Em outras palavras, nem mesmo a mulher gosta de saber o que eles sentem. O jogo que mantém as namoradas sem acesso às emoções dos rapazes, segundo o expert, é devido à vontade delas. Assim o jovem Arnaldo aprendeu, assim ensina ao rapaz que orienta como a um irmão mais novo. Ora, há algo mais confortável do que não se expor na relação amorosa porque você estará satisfazendo a vontade dela?

Apesar das mudanças socioeconômicas, apesar de melhorias como o acesso à escola para toda a população, o modo de ver a mulher e de se relacionar com ela não se modificou – quem determina como ela se sente e o que pensa são os homens. A “permissão” às moças para a transa antes do casamento ocorre porque favorece aos homens e justifica a perseguição do Estado às prostitutas.

Logo, a perda da virgindade masculina deve vir acompanhada de uma execução perfeita porque esse homem permanecerá eterno na mente daquela mulher. E esse homem deve manter suas emoções sob controle sob pena de desagradar a mulher com quem se relaciona e vir a sofrer com as atitudes dela. E, ainda, cabe a esse homem ter a clareza intelectual de mostrar à jovem que agora, sob o novo governo, ela pode transar antes do casamento – mesmo que Pedro defenda a reputação da namorada ao conversar com Arnaldo e ao ocultar o nome de Vivian dos colegas porque, na mente de Pedro e de outros membros da mesma sociedade, a transa fora do matrimônio faria dela outro tipo de mulher – uma prostituta.

Vivian, por seu lado, só pergunta se aquilo é um motel dentro do quarto. A jovem, então, como relata o personagem narrador, permanece indecisa por algum tempo. Ela externa o que sua mãe diria, que nela não se podia confiar, que “eu não presto” (p. 107, 2003). Após ouvir que poderiam ir embora quando ela quisesse, opta por apagar a luz e entrar naquele jogo amoroso.

A narração revela o peso da responsabilidade cobrada ao rapaz e, por outro lado, o medo imenso de não corresponder ao que deve fazer. O desvelamento dos medos de Pedro – por exemplo, não estar suficientemente limpo e cheiroso, não antecipar os acontecimentos e esperar pelo consentimento da namorada, não dizer “eu te amo” quando goza… – traz à narrativa seu ponto alto. Também sua aceitação dos tempos necessários à namorada e a disposição em abandonar o projeto da primeira noite caso ela não queira, permeadas pela certeza de que seria soado pelos colegas, trazem o desenho de um rapaz que oscila entre o que sente e o que deveria fazer.

AS METÁFORAS PARA O AMOR – O RECONHECIMENTO DE SI E A INTERLOCUÇÃO COM O OUTRO

Despidos e abraçados, o casal passa aos instintos, à percepção dos “pequenos ruídos do amor”. Imagens de natureza, sensação de morte e estouro de pássaros alçando vôo formam um conjunto simbólico que evidencia a intensidade do prazer sexual, a beleza que o narrador vê e sente naquele instante de realização e de descobertas. As sensações, por mais intensas que sejam, ganham tradução por meio de símbolos. “Flores úmidas”, “um rio distante”, “caracóis” são algumas das metáforas que apresentam a umidade dos corpos, o jorrar de um e de outro: “Estávamos bebendo um ao outro […]” (p.109, 2003). Também nesse momento, é o ponto de vista masculino, retirado às memórias do narrador em primeira pessoa, que dirige a cena. A profusão de elementos da natureza que ganham espaço para narrar o que aconteceu durante a relação sexual vem dos recursos utilizados por Pedro em seu cotidiano.

O desenvolvimento da narração revela que Pedro utiliza o recurso de pensar em um campo com florzinhas amarelas para conter a excitação sexual. O momento vivido naquela noite, a penetração dos dois corpos, é mediado por uma narração que retira os personagens do quarto de motel muito feio, na opinião de Vivian, e os coloca em um campo repleto de girassóis brilhantes. Nesse campo com grandes flores amarelas, uma menina e um menino vestidos de branco dão adeus a Pedro e Vivian. A cor das roupas, os brinquedos que carregam, todo o conjunto informa à leitora e ao leitor que um homem se despede das crianças que conhecia. Segundo o narrador, na verdade, ambos viram: “vimos duas crianças” (p. 108, 2003), “vimos, ou sentimos” (p. 109, 2003) que as crianças se afastavam e, ainda, “nós dois, Vivian e eu, morríamos em uma outra parte, ou ali mesmo” (p. 109, 2003). A primeira pessoa do plural substitui a primeira pessoa do singular até que, ressurretos, Pedro narra o ápice de seu orgasmo.

Quer porque conversavam muito e sobre todos os assuntos quer por acreditar que as sensações experimentadas naquele ato sexual foram similares, o narrador apresenta as descobertas daquele momento como pertencentes ao casal. Ambos teriam experimentado física e cognitivamente as mesmas emoções. O conto não nos informa como ele pode ter essa certeza. Nem precisa – o pacto que fazemos com a literatura dispensa a explicação. Ao lermos o que diz o personagem narrador, acreditamos nele, fazemos nossa a sua história na medida em que reconhecemos elementos, momentos e sensações que partilhamos com ele – mesmo que seja a narração das preocupações expostas pela personagem feminina.

Circularmente, o aviso de Arnaldo na abertura da narração referente a como agir e falar com as mulheres volta nas imagens do desfecho da história. Ao contar que não entendia o que estava sentindo, Pedro volta a usar a primeira pessoa do singular. Entram em cena a audição de uma música que ele nunca ouvira, a visão dos seios e do sorriso da mulher e a declaração a que não resiste, enquanto uma nuvem de pássaros alça vôo como “num estouro” (p.109, 2003). A natureza apresenta-se outra vez como recurso para narrar o gozo sentido pelo homem. O desfecho do conto coincide com o clímax da experiência para Pedro. Talvez tenham faltado as palavras, talvez a memória emocionada tenha paralizado a escrita. Talvez a conversa com seu interlocutor precisasse ficar mais íntima… Quem sabe?

Ao longo da narração. O personagem narrador demonstra que se dirige a um interlocutor. Trechos em que relata o medo do que ia experimentar como “E agora os outros também sabiam. Você compreende que eu não podia me arrepender?” (p. 101, 2003), ou em que demonstra indignação como “cara, não votaram em mim nem nove pessoas” (p. 102, 2003), ou ainda quando confessa “Tenho te contado quase tudo o que sei a respeito do que significa ser homem, como é o nosso desenvolvimento, que os mamilos doem como loucos aos doze, treze anos” (p.10, 2003), fica evidente que o personagem narrador está ocupado em relatar a um rapaz, a alguém que está crescendo, não apenas o que ele deveria fazer com uma mulher, mas principalmente os medos que o acometeram e as diferenças entre o que dizem que um homem deve fazer na sua primeira noite e o que ele efetivamente decide fazer ao assumir suas emoções em frente à parceira.

De forma diversa a de Arnaldo, esse narrador não pretende colocar-se como um expert que paira acima do conhecimento dos demais, mas como um homem que utilizou metáforas de um ambiente que conhecia – rural – para significar a importância da experiência naquele momento de amadurecimento e que narra não apenas as certezas mas principalmente os temores. Nesse conto, o estudante age com a sensibilidade que lhe é possível e ousa, transgredindo a tradição dos homens representados por Arnaldo, ao declarar suas emoções e seu amor para Vivian.

Também a protagonista de Como água para chocolate é transgressora…
Pôster do filme Como Água para Chocolate.

 Na próxima edição, abordarei o romance de Laura Esquivel e a relação entre os dois textos literários.

A AUTORA
Vera Haas – Doutora em Literatura. Professora EBTT. Jornalista.
REFERÊNCIAS

ECO, Umberto. Os limites da interpretação. Tradução Pérola de Carvalho. São Paulo: Perspectiva, 1995.
_____________. Lector in fabula: a cooperação interpretativa no texto narrativo. Tradução Attilio Cancian. São Paulo: Perspectiva, 2002.
ESQUIVEL, Laura. Como água para chocolate. Tradução Olga Savary. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
PAZ, Senel. “Nunca diga eu te amo”. Tradução Gustavo de Mello e Gabriel Grossi. IN: Contos de amor jovem. Textos de Antom Tchecov, Guy de Maupassant, Machado de Assis, Manuel Payno, Maximo Gorki, Moacyr Scliar e Senel Paz. – Porto Alegre: Leitura XXI, 2003.
VOLLI, Ugo. Manual de Semiótica. Tradução Silva Debetto C. Reis. São Paulo: Edições Loyola, 2015.

NOTAS
[i] O termo ‘textos’, neste ensaio, assume um sentido amplo, de acordo com a semiótica textual e com os estudos de Charles Sanders Pierce (em particular, a obra desenvolvida a partir de 1865, e, na sequência, a morfologia estudada a partir de 1903) e de L Hjelmslev (1980). Peirce estuda o signo e estabelece categorias, contribuindo muito para a análise, compreensão e interpretação de textos verbais e audiovisuais. No campo da Linguística, o trabalho de Hjemlslev delineia o plano da expressão e o plano do conteúdo – em um mesmo plano encontramos as relações sintagmáticas e paradigmáticas, ou seja, as relações de continuidade e de similaridade. Assim, cada signo (cada língua) relaciona dois planos distintos, uma expressão (um significante) e um conteúdo (um significado). Há, em cada sistema semiótico, uma substância da expressão (no cinema, a sequência de planos e ângulos; na linguagem, a voz articulada; na pintura, os pigmentos organizados na tela) e uma substância de conteúdo que faz emergir a percepção de mundo, ou de parte dele, por parte do leitor ou leitora do texto.
[ii] Umberto Eco (1995) desvincula o mundo possível da narrativa do mundo em que efetivamente nos encontramos. Eco postula os mundos narrativos possíveis de acordo com o mundo “mobiliado” delineado em uma narrativa.
[iii]A sociedade cubana foi reconhecida durante muito tempo pelo seu caráter marcadamente patriarcal e com o novo governo não foi diferente. Já no princípio da década de 1960, este demonstrou grande desdém pelas prostitutas e pelos homossexuais que viviam principalmente da indústria turística de Havana, tratando-os como “feridas” desagradáveis que maculavam a imagem da Cuba revolucionária, adotando medidas repressivas para eliminá-los: “Em 1962, na ‘noite dos três P’, prostitutas, proxenetas e ‘pássaros’ (palavra depreciativa para homossexual) foram detidos6” (DETTMAN, 2006)”. (KETZER; CANTARELLI, 2011. P. 198)

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