Amar-se deveria ser tão simples, tão isento de culpa.
Autocuidado
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Imagem de S. Hermann & F. Richter in Pixabay-2021.

CUIDAR-SE

Por mais estranho que possa parecer, cuidar-se começa por não se boicotar, não se esquecer frente às demandas da vida.

Começa por se escolher e dedicar um tempinho para você.

Ah… Como soam estranhas essas minhas colocações.
Eu sei.

Fotografia de Tetê Rodrigues cedida por Arabescko.

Sei, na prática, como para além do discurso, é complicado, por vezes, nos escolher sem culpa.

Entenda: isso não é egoísmo, é amor.

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Dorotheia Orem

Na área da saúde, a enfermeira Dorotheia Orem (1914 – 2007) pensou autocuidado como:

o que uma pessoa pode fazer, no seu dia-a-dia, de forma autônoma,
para manter, melhorar e/ou recuperar
a sua saúde e bem-estar.

Não diz de grandes custos ou de ações complexas, pelo contrário.

Fala das ações ordinárias ao longo do nosso cotidiano, de escolhas simples (ou que deveriam ser simples).

Apresento alguns exemplos:

  • beber água, alimentar-se de forma suficiente,
  • lavar as mãos,
  • respirar ar puro,
  • ter momentos – mesmo que curtos – para si,
  • ter momentos com amigos.

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Audre Lorde

Audre Lorde (1934 -1992), também, escreveu sobre autocuidado.

Em seu livro A Bust of Light, o epílogo sintetiza sua percepção sobre ‘autocuidar-se’:

“Cuidar de mim mesma não é autoindulgência, é autopreservação, um ato de luta política”.

Sim, autocuidado é um fazer, também, político.

A cantora, compositora e física Gabriela Viegas veste Arabescko. Foto: Studio Tetê Rodrigues.

PERCEBA-SE

Aprender a se olhar, se perceber é um fazer contínuo.

Não estou dizendo, reitero, de consumir mais, nem de ser mais produtiva à luz do mercado e, muito menos, de meritocracia ou de competividade.

Também não digo de padrões de beleza.

 Estou dizendo de vida!

 Estou dizendo da importância (e de como isso, na prática, pode ser difícil) de nos perceber, nos acalentar.

De saber que – por vezes – precisamos nos escolher, ‘lamber as feridas’ e respirar para poder prosseguir, para ter a chance de nos fazermos “fênix na vida”.

Não estou falando de individualismo.

Falo de partilha.
Falo do coletivo.

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Não digo de silenciamento, mas de escuta.

E isso tem como consequência ousar a pensar e ter empatia para além de nossas bolhas.

Falo de acolhimento e de saber e/ou se autorizar a – se necessário – buscar ajuda;
entendendo que pedir ajuda é, também, um ato de força, de resiliência, de sabedoria.

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A FRAGILIDADE

Entender-nos frágil, penso, é o primeiro passo – o primeiro respiro – para sermos, de fato, fortes.

A fragilidade não é defeito, é humana: uma qualidade em nós.

É o seu acolhimento que nos leva a nos preservar, a desenvolvermos estratégias de fortalecimento e a nos reconhecermos no coletivo.

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AMAR-SE

Amar-se deveria ser tão simples, tão isento de culpa.

Deveria ser – o que é – uma constatação da capacidade de amar os demais.

 Deveria ser um sinal – do que é – de amor à vida.

Não deveria ser confundido com uma das formas de desamor: o egoísmo.

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Autocuidado é muito mais que moda e mercado.

Eu diria que é uma força para estar no mundo.

Dedicar-se ao autocuidado é mais do que um acarinhar-se, embelezar-se

É uma ação política e de amorosidade consigo mesma.

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Nota – A primeira versão deste texto foi publicada na segunda edição de Histori-se (abril, 2021).

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