Úrsula
Mulheres que escrevem
Cultura e arte popular
Sobre o poema
Este texto-poema fiz em meu último ano no curso de Letras em um festival para angariar donativos às pessoas da cidade deAraçuaí do Vale do Jequitinhonha/MG.
Meu grupo ficou responsável pela religiosidade e cultura desse amável povo.
Visitamos o Frei Chico, que nos auxiliou com o tema religiosidade. Ele foi padre na Comarca de Araçuaí/MG por quinze (15) anos e rezava as missas congas.
Frei Chico gravou vários cd’s sobre as cantigas das lavadeiras e as benzeduras das benzedeiras.
Aprendi muito e assimilei as rezas e cantigas desse povo sofrido, mas feliz. Daí, veio o estalo da poesia em sala de aula…
A aula ia de “vento em poupa” e eu, ausente, sob a luz do sol tórrido, me ardendo entre palavras e visões, escrevendo às pressas,
…
– Ei, você ouviu o professor falar que iremos apresentar, também,
lá, em Jequitinhonha?
– Eu: hem?!!! Ah, tá, iremos.
E tudo culminou nesse poema em honra aos artesãos jequitinhonhenses.
POÉTICA DO ARTISTA PLÁSTICO E DE SUA RELIGIOSIDADE NO VALE DO JEQUITINHONHA
Sou o quinhão de fruto nascido do chão
Pra saciar a fome do pobre.
Sou a esperança dos desafortunados,
Sou “Kéramos“, a terra queimada, da pele queimada,
do sol do sertão.
Inspiro a devoção
De Deus a todo irmão
E as mãos rudes que me modelam,
Na esperança de seu quinhão,
Criam peças pra serventia,
Adornos, santos e profissão.
Há milhares de anos os gregos me conheceram
Caminho paralelo a sua evolução
Sou o peregrino da raça sofrida,
Ô, irmão, sua resistência de vida na fé
É como minha resistência nos componentes do foguete espacial.
O caboclo rude e humilde
Em contraste com a mente criativa
Extrai da terra seu torrão
Soca, sova, amassa, prepara o barro.
Modela sua vida diária.
Feições matutas,
Olhares de esperança,
Utensílios, adornos,
Tudo é modelado entre cantigas e risos,
Que espelha a própria vida.
São os artesãos do Jequitinhonha,
Os “Aleijadinhos do Sertão”
Vão moldando, vão criando,
Vão enfeitando o caminho.
A arte gerada dessas mãos,
Revela um ato de fé, aceitação.
Plantando, colhendo, pescando, amamentando
É esta a expressão na arte do Vale que fala
Bonecos de rostos familiares,
Manifestações populares,
Tudo serve p’ra inspiração do caboclo artesão
Terra queimada, pele queimada
Nordeste mineiro, pulsa…
O coração brasileiro.
(Vale do Jequitinhonha)
A AUTORA
Cláudia Rodrigues
NOTAS sobre a cidade de Araçuaí
- Localiza-se na região sudeste do Estado de Minas Gerais (Brasil), região muito conhecida devido aos seus baixos indicadores socioeconômicos, em contraste com a beleza do local.
- Sua riqueza vem do barro cerâmico.
- Seus habitantes tem traços das culturas portuguesa, negra e de povos indígenas.
- O nome Jequitinhonha é de origem indígena e significa “rio largo cheio de peixes”.
- Foi fundada em 1811, pelo alferes Julião Fernandes Taborda Leão, por ordem da Coroa Portuguesa.
Notas sobre Frei Chico
- Francisco van der Poel (ou, como é conhecido, Frei Chico) é holandês e pertence à Ordem dos Franciscanos.
- Foi pároco da diocese Araçuaí, onde chegou nos anos de 1960.
- Cativado pela cultura popular local, Frei Chico, escreveu a obra Dicionário da Religiosidade Popular: Cultura e Religião no Brasil, onde diz da cultura popular das pessoas que vivem no Vale do Jequitinhonha.