O filme Zona de Interesse.
- Longa-metragem. Drama. Direção de Jonathan Glazer
- Período histórico: Segunda Guerra Mundial
- Inspirado no romance Zona de Interesse de Martin Amis
Um soco no estomago.
Não espere grandes aventuras. Gestos heroicos.
Também, não espere crises de consciência diante do que entendemos como o horror.
Perceba que o humano e, principalmente, o desumano e a desumanização, presentes no filme, não ficaram na Segunda Guerra Mundial.
Talvez… essa percepção seja um dos mal estares que a película possa lhe trazer.
Ao longo do filme, estratégias como o ritmo e o modo da filmagem, te levam para dentro da fita.
É como se você estivesse lá, na casa, como um fantasma, assistindo a tudo …
Diz de nazistas? Sim. Mas não somente…
Eu e o Léo Prado assistimos o filme e conversamos sobre.
Compartilho o link de nossa conversa no final deste texto.
Uma definição antes dos spoilers
Zona de interesse: área nos arredores dos campos de concentração, administrada pela SS.
Spoilers
O longa-metragem é datado da Segunda Guerra Mundial e localizado nos domínios do nazismo.
A maior parte da narrativa acontece na casa do comandante de Auschwitz.
Uma família formada pelo casal e seus cinco filhos: um bebê, dois meninos e duas meninas. Pais amorosos.
Ele é o comandante do campo de concentração.
Ela, sua esposa, a “rainha de Auschwitz”.
O jardim da casa é separado do campo de concentração por um muro e, isso, parece não importar para seus moradores.
Mesmo quando constatamos que uma série de sons invadem seus cotidianos, ainda, assim, eles parecem indiferentes.
Esses sons, as diferentes luzes e a vista parcial de uma torre de guarda são partes dos elementos que nos narram, sem imagens ou palavras, a história que já sabemos: o campo de concentração e seus horrores.
Vivem numa bolha?
O casal sabe e apoia. Mais do isso – podemos afirmar – usufrui, do que acontece no campo de concentração.
Rudolf Höss é comandante. Hedwig, sua esposa.
Eles vivem como se estivessem num comercial de margarina. Como se do outro lado do muro não existissem pessoas, apenas os Outros.
Ela é uma dona de casa, orgulhosa de sua piscina e do seu jardim. Ele sai para trabalhar.
A piscina tem um chuveiro. O jardim é adubado com cinzas.
As botas são calçadas limpas e voltam sujas.
Deixadas fora da casa, são, silenciosamente, limpas por um empregado calado.
Num dado momento, percebemos que o comandante escuta projetos sobre formas mais eficazes de eliminar pessoas.
As vítimas já foram, por eles, desumanizadas.
Como um gestor que busca maior produtividade em uma indústria, Rudolf escuta e pensa sobre a eficiência e viabilidade do que ouve.
Em outra cena, Hedwig experimenta um casaco e um batom. Se admira e os guarda.
Percebemos a origem dos bens de que ela se apropria.
A mesma dos vestidos e dos brilhantes encontrados em um tubo de pasta de dentes sobre os quais, ela e as amigas conversam, animadas.
Os servos
A um primeiro olhar, os trabalhadores da casa, sempre silenciosos, de cabeças baixas e tensos, podem parecer prisioneiros do campo; contudo, creio, são poloneses empregados nessa posição.
O Campo de Concentração grita
O casal não os considera, mas os horrores que acontecem do outro lado do muro, continuamente, os invadem.
A filha sonâmbula. O filho brincando com dentes.
O filho mais velho trancando o mais novo na estufa.
A súbita partida e os incômodos noturnos de Linna, mãe de Hedwig.
O passeio, no qual o pai leva as crianças para nadarem no rio próximo.
Resistência?
Cenas noturnas nos mostram a imagem de uma menina que espalha maçãs nos arredores, em locais de trabalho de prisioneiros.
As imagens que de início nos confundem, trazem a lembrança das resistências… a importância das, aparentes, inocentes resistências.
A criança deixa as maças, na esperança de que prisioneiros do campo, as encontrem.
Entrevistas sobre o filme revelam que essa personagem menina foi inspirada em uma criança de 12 anos, chamada Alexandria, pertencente à Resistência Polonesa ( na época de produção do filme uma senhora nos seus noventa anos).
Desumanização
O único ponto de tensão para o casal é a promoção de Rudolf, que o transfere para os arredores de Berlim.
Rudolf consegue retornar para Auschvitz e para a sua casa.
Ele tem uma missão: a eliminação eficiente dos judeus húngaros enviados para o campo.
Lapsos de humanidade em Rudolf? Cena do cachorro, saudades da esposa e dos filhos, mal-estar em Berlim, vômito onde nada sai.
Festa em Berlim.
Rudolf observa a festa de comemoração nazista pelo sucesso da operação na Hungria.
Sobre isso, ele diz à esposa: “tudo que consegue pensar é em como gasear todos na sala”.
O presente
Não vemos o retorno de Rudolf para Auschwitz. Mas sabemos o que aconteceu e o final do filme nos lembra disso:
ele nos traz para os corredores do Museu de Auschwitz.
Eu e Léo Prado conversamos após a sessão de cinema.
Clique no link a seguir e confira
Impressões sobre o filme Zona de Interesse