ARTE DE VIVER NO CAOS
O último ano foi de testar limites. Um ano de reaprender, adaptar, improvisar.
Falando em improvisos, algumas categorias, em especial, tiveram que improvisar muito para viver. Recriar a vida, reaprender como fazer para trabalhar. Lembraram dos educadores? Todo respeito do mundo aos educadores que, mesmo sem encontros ou curso de informática, souberam auxiliar os seus pupilos; contudo, hoje falarei de outra categoria profissional. Falarei dos que sempre vivenciaram o improviso como Arte; como mecanismo da arte e – às vezes – como Linguagem.
Falarei dos artistas: Músicas, Teatreiras, Atrizes, Bonequeiras, Bailarinas, Circenses, Mímicas, Comediantes e tantos mais. Categoria, formada por autônomos e remunerada pelo público, seja por: couvert, cachê, bilheteria ou chapéu.
Porém arte é mais que trabalho. É vida!
A arte, muitas vezes, é a razão de ser de muitas pessoas e de muitos coletivos.
Como fazer arte em grupo sem sair de casa? Imagine a Orquestra ou o Corpo de Dança. E como não fazer arte e ficar em casa? Muitas dores e questões surgiram nesse novo tempo, onde Ontem não é mais referência, dando sentindo para a velha fala do poeta:
“E ser artista no nosso convívio/ Pelo inferno e céu de todo dia/Pra poesia que a gente não vive/Transformar o tédio e melodia”
(Cazuza, Todo amor que houver nessa vida -1982)
Artistas não param. Não há como parar a arte!
Recriar e migrar não foram escolha. Uma Live nunca terá o pulsar do público, mas não deixa de ser troca e acalanto, em tempos tão frios.
Durante esse tempo de isolamento, as artes tomaram consciência de que o poder público, realmente, não gosta de artistas.
Alguns direitos perdidos e uma dificuldade financeira geral – sentida mais forte pelo artista popular – provaram que a realidade da vida da bailarina – “Que ela é forçada a enganar/ Não vivendo pra dançar/Mas dançando pra viver…” [1] pode ser pior em tempos de crise.
Em Porto Alegre – e em todo o Rio Grande do Sul – vemos a cultura ruir, literalmente, com o fim dos espaços públicos de uso das artes.
E agora, como ficam os grupos que necessitam de sede pra trabalhar? Existem sedes privadas de grupos? Onde elas estão? Quem são esses grupos? Do que eles se alimentam?
O PROJETO HISTORI-SE “VISITAR ARTISTAS POPULARES”
Com esse conjunto de perguntas surge o projeto de visitar grupos de artistas populares que – mais do que sobreviverem – fazem arte em tempos de crise.
MESTRAS BONEQUEIRAS
E para começar essa turnê,veremos – de perto – onde e como moram os artistas bonequeiros. Esses artistas fazem a mais antiga narrativa conhecida: a animação de objetos para contar histórias.
Em breve, aqui, estaremos envoltas por Marionetes, Fantoches, Muppets, Bonecos gigantes, Automáquinas, Sombras e outras Traquitanas Animadas ao lado de seus mestres. E claro, como Histori-se é um espaço de protagonismo feminino, vamos às Mestras Bonequeiras, que fazem história na cultura popular.
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NOTA: [1] – Samba Canção (1954), composição de Américo Seixas e de Chocolate (Dorival Silva), imortalizado na voz de Elis Regina.