História e suas manas
História de mulheres
Uma palavra pode possuir mais de um sentido?
Os vários exemplos que, sem prestar muita atenção, utilizamos no nosso cotidiano nos dizem que sim.
Palavras e conceitos possuem historicidade.
O termo alvo desta conversa é “bruxa”.O que me lembrou deste tema foi a comemoração do Halloween (Dia das Bruxas) no dia 31 de outubro, que nos últimos anos, vem se tornando um hábito no Brasil (pelo menos, em alguns espaços).
Um pouco dos usos e entendimentos do termo “bruxa” na atualidade pode ser vislumbrado através das redes sociais.
Encontramos referências às demandas políticas, sociais e econômicas de mulheres, dizeres de poderes intuitivos, de resgates de feminilidades, postagens de humor, entre outras.
Mas concordo com Silvia Federici, quando ela lembra que o termo “bruxa” não foi definido pelas mulheres, mas pelos que as perseguiram, torturaram, difamaram e mataram.
Historicamente (e não apenas) é importante interrogar: quem eram as mulheres acusadas de bruxas na Idade Média e no raiar da Idade Moderna ocidental?
- O que o receio dessa acusação causou (direta ou indiretamente) na ideia do que é ser mulher, dos lugares e dos espaços e dos modos femininos?
- Os sentidos atuais?
- Quem são as pessoas ditas “bruxas” na atualidade?
- Que bruxas?
Se os movimentos de mulheres, no decorrer do século XX, capturaram o termo bruxa e o brindaram de novos significantes relacionados às reinvindicações e lutas femininas por direitos e/ou ao autoconhecer e/ou à espiritualidade, devemos ter em mente que esses processos também possuem historicidade e não ocorreram por algumas mulheres cismarem com ideia, mas por fatores desencadeantes para essas ações/produções culturais.
Se, na atualidade, encontramos o significado de bruxa, dizendo da mulher que busca o conhecimento, que cuida de sua comunidade, que tenta viver em harmonia com a natureza, entre outros significantes, entendidos como “do bem”; ou seja, positivos.
Há, ainda, os usos e referências com objetivos depreciativos e ofensivos e muitos desses estão de braços dados com a letalidade.
Para mim, a atribuição de sentidos relacionados ao conhecimento, à amorosidade, à ação feminina em prol de suas comunidades, à valorização do feminino enquanto potência, à alegria, ao autoconhecer-se é também
recordar que vítimas da acusação de bruxaria: não eram (e não são) pessoas com poderes direcionados ao maleficio, relacionadas à má sorte.
Eram pessoas que viviam em seus tempos, acusadas por perversas e/ou ignorantes mentes.
Referência mencionada no texto:
Federici, Silvia. O Calibã e a Bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva. Tradução: Coletivo Sycorax. SP: Elefante, 2017