Coluna Diadorim
Rin Tin Tin e Dona Vivalda
A tipinha olhava um seriado na TV. A mãe conversava com a amiga na cozinha contígua à sala.
– Uma vez, ela não achou os óculos dentro de casa. Outro dia, largou a chaleira na lavanderia e esqueceu. Depois, não achava a chaleira… Aí, a dona Vivalda me chamou e achei a chaleira pra ela.
– É… – retrucou a amiga que viera passar o domingo com a mãe da menina. Coisas da idade. E prosseguiu: – Minha irmã tem ido bem seguido na casa da mãe. Ela já tem 79… Às vezes, esquece onde guardou alguma coisa. Aí, a mana vai lá e acha pra ela. Outro dia, a mãe não se lembrava onde tinha colocado as agulhas de tricô. Imagina!
– Pois é, a tia Luiza tá sempre tricotando! – comentou a dona da casa, finalizando a lasanha com uma camada de queijo. Em seguida, colocou a forma no forno.
– Agora vamos esperar um pouco. Já já vai estar pronta. Que bom que a Jane mora em Dois Irmãos! Assim ela ajuda tua mãe.
– Verdade. E agora mora bem pertinho. Tem que ir lá, a casa da Jane ficou um mimo!
– Vamos combinar para o feriado? Pego as crianças e passamos a tarde lá.
– Nossa, a mãe e a Jane iam adorar! Só não comenta que contei das agulhas de tricô!
– Não, nem te preocupa, claro que não vou falar! É… – a mulher refletiu –, a gente, aqui em casa, gosta muito da dona Vivalda.
As duas sorriram cúmplices nos cuidados com aquelas mulheres de cabelos brancos.
– Sabe, como vizinha, tu faz muito pela dona Vivalda. Tu ajuda ela, dá atenção… E isso, esses esquecimentos, isso é coisa de gente de idade.
Na sala, a menina tinha a respiração suspensa e os olhos brilhantes.
Finalmente! Tudo se resolvia, e Rin Tin Tin atacava o bandido! Amava aquele cachorro!!!
Alguns dias depois, às vésperas do dia sete de setembro, Clara informa à mãe:
– Mamãe, também sou gente de idade.
– Por que, filha? – pergunta a mãe.