Alice tomando chá
Imagem cedida pela autora.
Diadorim
Crônicas

COTIDIANO

O cotidiano, levado ao pé da letra, tende à monotonia.
E a monotonia é uma chatice, um bocejo muito longo que vai caindo num vazio cheio do mesmo nada de sempre.

E se a gente não toma pulso sobre esse bicho tédio, se atira num bocejo fundo de infinito cansaço.

Cinco horas. O relógio desperta calmo num ruído gostoso, de uma gostosura negada apenas pela escuridão do dia.

No ônibus, o sol tênue brinca com a pele, dança indiscreto banhando o corpo ainda sonolento.
Mas o atordoamento de gente enlatada no próximo ônibus joga o mundo sobre a gente. Água fria.

No Campus da UFRGS, um bando se agita.
Avançam para a sala de aula, retardatários do dia iniciado.
Blá-blá-blás acumulam outros blá-blá-blás.

E o conhecimento?

Cria-se, na medida do possível. Na medida do abraço do outro, do livro emprestado, dos des-interesses comuns.

A fadiga já permeia quente mais uma viagem de ônibus.
O almoço tem o sabor da velocidade da deglutição.

Esbaforidos, pequenos alunos aguardam as aulas que deverão tirá-los do vermelho.
O show de uma quase docente começa, em breve devem saltar coelhos da gramática da língua portuguesa.

O que fazer com quem nunca ouviu falar da cobra do Paraíso e nem de complemento nominal?

As horas correm e trazem problemas de ortografia, de interpretação de texto, de vocabulário etc etc etc,
tudo sempre ao sabor do tempo, tudo sempre para agora, agora e agora…

Finalmente o eterno Cid do mesmo plim-plim. Não.

Melhor: uma música. Um banho morno, a re-tessitura do corpo, da vontade.

A Chris, ao telefone, fala dos últimos acontecimentos universitários, quer material sobre o Trevisan.
Jaciara quer marcar nosso grupo, o trabalho para Brasileira.
Carmen liga para avisar que o pastor alemão está se recuperando.
O Coca liga às vinte e três e trinta para um bate-papo.

Ela despenca na cama, já sonhando o sono merecido, compondo um outro mundo, sempre movente.

Ainda, rapidamente, vislumbra o dia seguinte num redemoinho… Será que todo o pessoal do latim virá para a reunião?…
Fortunata quer ser lida… E o afilhado dela está de aniversário… E o Günther quer o Horácio…

Ivana sonhou com o Coelho Branco.

Alice e o coelho ´cartaz de divulgação do filme Alice no País das Maravilhas.
Imagem cedida pela autora.

Notas:

  1. UFRGS = Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Esta universidade está localizada na cidade de Porto Alegre, RS, Brasil.
  2. Cid = referência ao apresentador de telejornal Cid Moreira.
  3. Texto escrito por Vera Haas em Porto Alegre no ano de 2007.
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