Conto histórico – História e literatura
O contato com a história brasileira é importante desde a infância e não penso que deva estar restrita às datas comemorativas como balizas.
Uma sugestão para educadores trazerem temas relacionados à nossa história e cultura, para além das datas comemorativas, é a escolha de livros que, em sua trama narrativa, tragam conhecimento histórico e/ou oportunizem reflexões sobre nossa sociedade e cultura.
Projetos a partir de contação de histórias e/ou leituras de livros, como Maria Flor e Maion, geram projetos multidisciplinares incríveis. Permitir às crianças e jovens construírem a ideia de nosso país como plural e multiétnico, com certeza, é um ingrediente para uma sociedade mais justa e menos violenta.
A história traz a humanidade – homens, mulheres crianças, jovens – pelos tempos, enquanto seres sociais.
Ela não está sendo feita longe, mas em nosso cotidiano.
A escrita da história é uma narrativa. Ponto.
Mas é claro que encontraremos semelhanças e convergências com a narrativa literária. A começar pelo fato de que uma boa narrativa tem o poder de nos prender à leitura e provocar curiosidades.
Aqui faço um comentário: contar histórias, narrar acontecimentos, planos, sonhos fazem parte da humanidade em todos os tempos e em todas as culturas. Óbvio que não estou referindo, apenas, à narrativa escrita.
Trazer o conhecimento histórico como base para o tecido de contos, novelas ou romances pode contribuir para atiçar a curiosidade sobre os temas abordados.
Margens e fronteiras: ficção e conhecimento histórico
Para concluir pergunto:
O que fazem historiadoras e historiadores com os resultados de suas pesquisas?
Como escolhem, ordenam e transmitem o conhecimento histórico?
Através da palavra.
Sim, através das palavras são tecidas as narrativas históricas. Nessas tramas, acontecimentos são privilegiados e ordenados, fatos destacados, datas valorizadas enquanto marcos.
Ao tentar descrever processos históricos, edifica-se o discurso e tece-se narrativas.
E quando a literatura e a história se casam?
Convido o escritor e filosofo Umberto Eco para responder a esta interrogação:
[…] na verdade, espera-se que os autores não só tomem o mundo real por pano de fundo de sua história, como ainda intervenham constantemente para informar aos leitores os vários aspectos do mundo real que eles talvez desconheçam
Notas e referências Bibliográficas
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- ECO, Umberto. Seis passeios pelos bosques da ficção. Tradução de Hildegard Feist. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. Página: 100.
- MIGNOLO, Walter. Lógica das diferenças e política das semelhanças: da literatura que parece história ou antropologia e vice-versa. In: Chiappini, L.; Aguiar, F. (org.). Literatura e história na América Latina. São Paulo: Edusp, 1993. p. 115-134.
- WHITE, Hayden. O texto histórico como artefato literário. In:____________. Trópicos do discurso: ensaios sobre a crítica da cultura. Tradução de Alípio Correia de Franca Neto. 2.ed. São Paulo: Edusp, 2001. p. 97-116.